Capítulo 20

NA MANHÃ SEGUINTE, à mesa do café, me peguei analisando os garotos, procurando sinais que indicassem se algum deles era parecido com Jack. Não parava de pensar que, se eu tivesse prestado mais atenção aos primeiros dias, teria sido capaz de perceber que havia algo de errado com ele.
Examinei aqueles que eu já conhecia, como Hale e Henri. Até a presença de Erik era bem-vinda.
Depois de conhecê-los, não podia permitir que um garoto me deixasse com medo de todos os outros.
E, de verdade, eu nem tinha o privilégio de ficar com medo.
Então recuperei a compostura e lembrei de quem eu era. Não podia viver assustada.
Um pouco antes do término da refeição, levantei e pedi a atenção de todos:
— Cavalheiros, tenho uma surpresa para vocês. Em quinze minutos, me encontrem no estúdio para um pequeno jogo.
Alguns riram, outros aplaudiram, mas não sabiam o que os aguardava. Quase me senti mal. Me retirei antes deles para garantir que meu vestido e meu cabelo saíssem bem na filmagem.
Logo depois, os rapazes apareceram, e todos pareciam um pouco impressionados com o cenário.
Sentei diante deles, um pouco como uma professora, enquanto cada um dispunha de uma banqueta com um bloco de papel, canetinha e um crachá enorme e meio caricaturesco com seus nomes, como os que eu tinha visto em programas de perguntas e respostas na TV.
— Bem-vindos, cavalheiros! — cantarolei. — Por favor, tomem seus lugares.
As câmeras já estavam ligadas e captavam os sorrisos nervosos e os olhares confusos quando eles sentaram e prenderam seus crachás.
— Hoje teremos um teste sobre assuntos que dizem respeito a Illéa. Vamos tratar de história, relações internacionais e política interna. Cada vez que acertarem uma pergunta, uma das criadas presentes — apontei para as senhoritas a postos nas laterais — irá colar um adesivo dourado com sinal de certo em vocês. Se errarem, elas trarão um X preto.
Os garotos riram de entusiasmo e ansiedade ao ver os cestos cheios de adesivos.
— Não se preocupem, pois isto é apenas uma brincadeira. Mas usarei as informações para decidir os próximos eliminados. Errar a maioria das perguntas não implica exclusão automática… mas estou de olho — provoquei com o dedo apontado para eles.
Depois dessas palavras, começamos o teste.
— Primeira pergunta — anunciei. — Esta é importante! Qual é a data do meu nascimento?
Entre risos, os garotos abaixaram as cabeças, rabiscaram suas respostas e espiaram as dos vizinhos.
— Muito bem, levantem as placas — ordenei e corri os olhos pela variedade de datas.
Kile evidentemente sabia que era 16 de abril, e não era o único, mas poucos também sabiam o ano.
— Querem saber? Vou dar o ponto para todos que pelo menos responderam abril.
— Isso! — gritou Fox entusiasmado, enquanto Lodge e Calvin batiam as mãos ao fundo.
As criadas entraram no palco, e os garotos que ganharam um X lamentavam de um jeito cômico, mas receberam o adesivo sem ressentimentos.
— Eis aqui uma questão com muitas respostas em potencial. Quem vocês consideram os maiores aliados de Illéa?
Alguns acertaram ao escrever França, Itália e Nova Ásia. Henri, por sua vez, ergueu o nome da Noruécia acompanhado de montes de pontos de exclamação.
O cartaz de Julian tinha várias setas que apontavam para seu rosto e a palavra EU escrita em letras garrafais.
Apontei para ele e questionei, tentando conter o riso.
— Espere aí! O que isso quer dizer?
Com um sorriso enorme, ele deu de ombros e explicou:
— Só pensei que eu poderia ser um grande amigo do país.
Balancei a cabeça.
— Sem noção — acusei, mas acho que não soou como uma bronca tanto quanto gostaria.
Uma das criadas ao lado do palco ergueu a mão:
— Então ele ganha um X ou…?
— Um X, com certeza! — assegurei, e os garotos riram, inclusive Julian.
A maioria acertou o nome de August Illéa como parceiro de meu pai na erradicação das forças rebeldes, e todos conheciam a história da Quarta Guerra Mundial. Quando chegamos ao fim, gostei de ver como todos eram bem informados.
— Deixem-me ver. Quem tem mais adesivos dourados?
As criadas me ajudaram a contar pelas fileiras, o que foi muito eficiente, já que foram elas que marcaram os pontos.
— Hale tem seis — constatei. — Assim como Raoul e Ean. Bravo, cavalheiros!
Bati palmas, e os rapazes fizeram o mesmo antes de perceber o que vinha depois.
— Muito bem, e quem tem mais adesivos de X?
As criadas logo apontaram para o fundo, onde o pobre Henri estava recoberto de adesivos pretos.
— Ah não, Henri! — exclamei entre risos, tentando demonstrar que o jogo não era assim tão sério.
Eu realmente tinha alimentado a esperança de cortar alguém depois do teste, mas sabia que a falta de informação de Henri tinha a ver com o fato de ele ser novo em Illéa ou com algum problema na tradução.
— Quem mais? Burke e Ivan… não foram tão mal.
Aqueles dois tinham ido muito mal, mas ainda assim tinham três adesivos de vantagem sobre Henri. Pelo menos esse resultado ia ao encontro da minha falta de entusiasmo com Ivan.
— Obrigada a todos por me aturarem esta manhã. Levarei estes resultados em conta para filtrar os pretendentes ao longo das próximas semanas. Parabéns por serem tão inteligentes!
Aplaudi os rapazes, que trocaram tapinhas nas costas enquanto as câmeras eram desligadas.
— Antes de partirem, cavalheiros, tenho uma última pergunta. Ela vem de um acontecimento bem recente, então é melhor todos acertarem.
Eles murmuraram entre si, prontos para o desafio.
— Quem souber a resposta, fique à vontade para simplesmente responder em voz alta. Prontos? Em que momento é aceitável me tocar sem o meu consentimento?
Encarei cada um deles com o rosto frio como pedra, desafiando-os a dar uma risada sequer. Eles trocaram olhares, mas somente Hale teve coragem suficiente para responder.
— Nunca — disse.
— Correto. E é bom que todos se lembrem disso. Jack Ranger foi expulso, levando com ele nada mais que um soco de meu irmão e a vergonha da eliminação. Se qualquer um de vocês tentar me tocar sem meu consentimento, será açoitado ou coisa pior. Está claro?
O grupo permaneceu em silêncio.
— Tomarei isso como um sim.
Saí do estúdio com a expectativa de que minhas palavras repercutiriam. A brincadeira tinha terminado, e eles não podiam duvidar disso.


Depois do almoço, meu pai se atrasou para chegar ao escritório, o que era raro. Assim, eu estava sozinha quando a Srta. Brice bateu à porta.
— Alteza — ela cumprimentou. — Seu pai ainda não chegou?
— Não. Não sei bem o que o está atrasando.
— Humm — ela refletiu, enquanto ajeitava a pilha de papéis que carregava no braço. — Preciso muito falar com ele.
A Srta. Brice parecia tão jovem às vezes. Era muito mais velha que eu, naturalmente, mas ainda não tinha a idade do meu pai. Nunca soube direito o que pensar dela. Não que a detestasse ou coisa assim, mas sempre me perguntei por que ela era a única mulher a trabalhar com meu pai.
— Posso ajudar com alguma coisa? — perguntei.
Ela baixou a cabeça, mais uma vez pensativa.
— Não sei ao certo se seu pai deseja compartilhar a informação, então receio que a senhorita não possa ajudar. Sinto muito.
Eu sorri, certa de que era verdade.
— Sem problemas — foi minha reação. — Srta. Brice, posso lhe fazer uma pergunta? A senhorita é muito inteligente e bondosa. Por que nunca se casou?
— Eu sou casada — ela respondeu com uma risadinha. — Sou casada com este emprego! Ele significa muito para mim, e prefiro trabalhar direito a procurar um marido.
— É isso aí.
— Sei que a senhorita compreende. Além disso, as únicas pessoas que vejo são os outros conselheiros, e não quero uma relação com nenhum deles. Por isso, continuo apenas trabalhando.
— Respeito a sua escolha — disse, assentindo. — Acho que as pessoas partem do princípio de que uma mulher não pode ser feliz sem marido e filhos, mas a senhorita parece bem satisfeita.
Ela deu de ombros.
— Eu penso sobre isso. Talvez adote uma criança no futuro. E realmente acredito que a maternidade é uma honra. Nem todas são dignas dela.
A ponta de amargura em sua voz me fez pensar que ela se referia à própria mãe, mas não quis entrar no assunto.
— Eu sei. Tenho sorte de ter uma mãe maravilhosa.
Ela suspirou e relaxou um pouco.
— É da natureza dela. De certa forma, ela foi minha segunda mãe quando eu era mais jovem. Aprendi muito com ela.
Franzi a testa.
— Não sabia que a senhorita estava há tanto tempo no palácio.
Tentei me lembrar de uma época em que não a encontrava pelos corredores, embora só tenha começado a prestar atenção aos conselheiros aos treze anos, quando comecei a trabalhar com meu pai com mais frequência. Talvez simplesmente não a tivesse notado.
— Sim, Alteza — ela garantiu com um sorriso no rosto. — Estou aqui há quase tanto tempo quanto a senhorita. Seus pais são extremamente generosos.
Dezoito anos era bastante tempo em um cargo no palácio, especialmente um cargo de conselheira.
Meu pai trocava a maioria das pessoas a cada cinco ou oito anos com base nas recomendações e na situação do país. O que manteve a Srta. Brice no posto por tanto tempo?
Observei-a jogar o cabelo por cima do ombro e sorrir. Será que meu pai a deixara ficar por ser atraente? Não. Me senti culpada só de cogitar que ele seria capaz de uma coisa tão vulgar e egoísta.
— Bem, sinto muito não poder ajudá-la, mas avisarei meu pai que você veio.
— Obrigada, Alteza. Não é nada muito urgente, então não há pressa. Tenha um bom dia.
— A senhorita também.
Ela fez uma reverência e saiu. Mantive os olhos na porta por um bom tempo, curiosa com aquela mulher que aparentemente eu conhecia desde sempre sem nunca ter me dado conta. Afastei aqueles pensamentos e voltei à papelada. Entre a Seleção e o trabalho, não havia espaço na minha cabeça para a Srta. Brice.

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