Capítulo 6

TRINTA E CINCO CESTOS ME AGUARDAVAM lá no escritório, repletos do que deveriam ser dezenas de milhares de inscrições, todas deixadas em envelopes para garantir o anonimato dos cavalheiros. Tentei demonstrar ansiedade por causa da câmera, mas na verdade estava a ponto de vomitar em um daqueles cestos a qualquer momento.
Seria um jeito de afunilar as opções.
Meu pai pôs a mão nas minhas costas e disse:
— Muito bem, Eady. Você só precisa caminhar até cada um dos cestos e retirar um envelope. Vou segurar os envelopes sorteados para que não fique com as mãos ocupadas. Depois, nós os abriremos ao vivo no Jornal Oficial desta noite. É simples assim.
Para algo tão simples, parecia incrivelmente aterrador. Mas, pensando bem, eu vinha me sentindo sobrecarregada desde o anúncio da Seleção, então essa apreensão já não era novidade.
Ajustei minha tiara favorita e ajeitei meu vestido cinza brilhante. Queria garantir uma aparência radiante. Quando conferi meu reflexo antes de ir para o andar de baixo, até fiquei um pouco intimidada pela imagem no espelho.
— Então eu literalmente seleciono cada um deles? — sussurrei na esperança de que as câmeras não estivessem perto demais.
Ele abriu um leve sorriso e falou baixinho:
— É um privilégio que eu nunca tive. Vá em frente, meu amor.
— O que você quer dizer?
— Mais tarde. Agora vá — ele insistiu, apontando para as pilhas e mais pilhas de inscrições.
Respirei fundo. Eu ia conseguir. Não importava o que as pessoas esperavam, eu tinha um plano. E era infalível. Sairia disso ilesa. Apenas alguns meses da minha vida – nada se comparados ao todo – e então voltaria ao trabalho e me tornaria rainha. Sozinha.
Então por que toda essa hesitação?
Cale a boca.
Caminhei até o primeiro cesto. Um rótulo indicava que todos os concorrentes ali eram de Clermont. Puxei um envelope da lateral da pilha. Os flashes das câmeras piscaram e um punhado de gente até chegou a aplaudir. Minha mãe, toda emocionada, jogou os braços em volta de Ahren, que por sua vez me fez uma careta sem ninguém perceber. Madame Marlee suspirou de alegria, mas madame Lucy estava ausente. Osten também faltara, o que não era surpresa, mas Kaden estava lá, observando tudo com interesse.
Usei técnicas diferentes para cada pilha. Em uma, peguei o envelope do topo. No seguinte, enterrei o braço até o fundo para pescar minha carta. Aparentemente, deixei os espectadores vidrados quando cheguei a Carolina, a província natal de minha mãe: peguei dois envelopes, pesei-os por alguns segundos e em seguida devolvi um deles ao cesto.
Coloquei a última inscrição nas mãos de meu pai. As palmas e os flashes das câmeras pararam.
Abri um sorriso que imaginava ser entusiasmante antes de os jornalistas deixarem o recinto para apresentar suas histórias exclusivas. Ahren e Kaden se retiraram, fazendo piadas pelo caminho, e minha mãe me deu um beijo rápido na cabeça antes de ir atrás deles. Já tínhamos voltado a nos falar, mas não havia muito que dizer.
— Você foi maravilhosa — meu pai disse assim que ficamos a sós, e havia um tom genuíno de admiração em sua voz. — De verdade, sei como pode ser assustador, mas você foi ótima.
— Como você sabe? — perguntei enquanto colocava as mãos na cintura. — Não foi você que fez o sorteio, foi?
Ele engoliu em seco antes de responder:
— Você já ouviu por alto a história de como sua mãe e eu nos conhecemos. Mas existem pequenos detalhes que é melhor manter guardados. Só vou lhe contar porque acredito que isso vai ajudá-la a ver como tem sorte.
Fiz que sim com a cabeça, sem saber onde aquilo ia parar.
Ele respirou fundo e começou:
— Minha Seleção não foi uma farsa, mas passou bem perto disso. Meu pai escolheu todas as concorrentes a dedo. Selecionou moças com conexões políticas, famílias influentes ou charme suficiente para fazer o país inteiro lamber o chão em que pisavam. Ele sabia que era necessário um pouco de variedade para dar um ar de legitimidade à coisa, então três Cinco foram acrescentadas à mistura, mas nada abaixo disso. Elas serviriam para ser descartadas e evitar suspeitas.
Notei meu queixo caído e fechei a boca no ato.
— Inclusive a mamãe?
— Ela deveria ter ido embora imediatamente. Verdade seja dita: ela mal sobreviveu às tentativas de meu pai de mudar minha opinião ou expulsá-la ele mesmo. E olhe para ela agora.
O rosto de meu pai mudou completamente.
— Embora para mim tenha sido difícil imaginar — ele prosseguiu —, ela é ainda mais amada que minha mãe. Gerou quatro filhos lindos, inteligentes e fortes. E tem sido toda a felicidade da minha vida.
Antes de concluir, meu pai repassou os envelopes em suas mãos, olhando para o nada.
— Não sei ao certo se acredito em destino. Mas posso dizer que às vezes aquilo que você mais deseja vai cruzar sua porta determinado a te evitar a qualquer custo. E, ainda assim, de algum jeito, você descobre que é suficiente para fazê-lo ficar.
Até então, eu jamais tivera motivos para acreditar que não conhecia a história de amor dos meus pais do começo ao fim. Mas, entre a confissão dele de que minha mãe sequer poderia ser considerada uma opção e a revelação dela de que nem queria participar do concurso no início, passei a me perguntar como eles conseguiram encontrar um ao outro afinal.
A expressão de meu pai deixava claro que nem ele era capaz de acreditar.
— Você vai se sair muito bem, sabia? — ele comentou, radiante de orgulho.
— Por que você acha isso?
— Você é como a sua mãe e a minha. É determinada. E talvez o mais importante: não gosta de fracassar. Sei que tudo isso vai funcionar. No mínimo, porque você vai se recusar a deixar o contrário acontecer.
Quase lhe contei, quase confessei que tinha lotado páginas e páginas com ideias para afugentar os garotos. Ele tinha razão: eu não queria fracassar. Mas, para mim, fracasso seria ter uma vida conduzida por outra pessoa.
— Tenho certeza de que tudo acontecerá como deve — afirmei, com uma ponta de arrependimento na voz.
Ele levou a mão até minha bochecha e disse:
— Geralmente acontece.

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