Capítulo 14


CHEGUEI EM CASA e foi uma enorme festa na minha família. Todos
elogiaram e adoraram meu corte de cabelo e a roupa que comprei. E
ficaram curiosos para conhecer o Zeca, para quem eu estava fazendo
minha especialidade, palha italiana. Precisava agradecer tanto carinho
com comida (a melhor coisa da vida!), que levaria de surpresa para a
escola.
Mas o grande impacto aconteceu mesmo no dia seguinte, ao chegar na


escola.


Entrei na sala e já comecei a perceber os olhares. Não acusatórios ou
debochados. Mas senti uma certa surpresa nas pessoas. Parece que
todos viraram para mim e me olharam quando passei pela porta. Não sei
se porque me acharam bonita ou se porque EU estava me achando muito
melhor do que antes. Mas definitivamente foi uma sensação boa!
– Olha ela aí! Uau! Você está diferente, Tetê. O que aconteceu? Você
emagreceu? – perguntou Davi.
– Não. Acho que não – falei, meio sem graça.
– Calça nova? – ele tentou adivinhar.
– Não também – respondi, achando muito divertida a cegueira
masculina.
– Ela cortou o cabelo, Davi! Alou! – disse Zeca, assim que se
aproximou de nós.
– Ah, claro. Sabia que havia algo diferente na Tetê. Ficou bonita!
– Eu acho que ficou muito bonita – rebateu Zeca.
– Ficou linda, Tetê – elogiou Erick.
Alou, Brasil, polo norte e China!
O Erick me fez um elogio! Erick, o divo. O lindo. O perfeito. O deuso.
Quando virei para trás e vi que foi daquela boquinha carnuda que
haviam saído as palavras mais sensacionais do mundo, não consegui
dizer nada. Meu queixo caiu e caído ficou.
– O-bri-ga-da! – reagiu Zeca. – É assim que a gente fala quando
recebe um elogio desses, Tetê! Vai, menina!
– Ah, desculpa. Erick… Não esperava ouvir isso de… de… de voc…
– De manhã! De manhã é a hora do dia que a gente mais se acha uó e
tem certeza de que não vai ouvir nada de bom sobre nossa aparência! –
Zeca entrou em ação para me corrigir. – Não é isso que você ia dizer,
Tetê?
– É… É, sim… É que… Ah, Erick… Você é tão… tão…
– Gentil. Obrigado, de nada! Agora vem comigo lá fora que preciso te
mostrar a raiz do meu cabelo – pediu Zeca, agarrando minha mão e me
puxando para fora da sala.
Atônita, nem questionei a atitude do meu superamigo e me deixei ser
arrastada para o corredor.
– Tetê, sai do transe e olha pra mim! Anda, garota! Olha pra mim! –
ordenou Zeca, me sacudindo como se eu estivesse sob o efeito de alguma
hipnose.
Eu devia estar mesmo. Parecia que o meu coração batia em câmera
lenta. O mundo girava em câmera lenta. Tudo em volta estava devagar,
como se o tempo não quisesse passar, como se eu quisesse fazer a
sensação de receber um elogio do menino mais lindo do mundo durar o
máximo possível.
– Que foi? – perguntei, quando enfim o planeta voltou ao ritmo
normal.
– Esquece esse negócio de Erick, seu lindo, de botar o ego dele nas
alturas.
– Mas ele me elogiou! Você viu?
– Pelo amor de Getúlioooo! Claro que vi, Tetê! Por isso te arrastei
pra cá. Agora você tem que ser esperta e deixar de encher a bola dele. O
cara já sabe que você é louca por ele.
– Eu não sou louca por ele.
– Dã! É, sim!
– Sou, sim.
– Então escuta: vai por mim. Garoto não gosta de menina babona.
– Eu não sou babona!
– Claro que é!
– Claro que sou…
– Então… Se você quiser ter alguma chance com o Erick, pelo amor de
Getúlio, faz jogo duro! Isso dá certo desde o tempo da minha avó. E é
inacreditável, mas continua dando certo até hoje. Então, segura esse
olho brilhando e essa sua boca frouxa que só sabe elogiar o garoto!
– Você é gente boa mas é meio louco, né? – falei para ele, achando
que fazia muito sentido.
– Talvez maluquinho. Mas louco não sou, não.
– É, sim. Você é louco de achar que eu tenho alguma chance com o
Erick! Ele namora a Valentina!
– A menina mais chatina do mundo? E daí? Aprende a se valorizar,
chuchu!
Apenas suspirei. O professor chegou e demos por terminada a
conversa. Eu sorria por fora, meu peito sorria por dentro e a certeza de
que eu nunca tinha sido tão feliz estava impressa no meu rosto. A vida

vem em ondas mesmo, já disse Vinicius.


                                                       ***


A semana passou voando e o sábado, dia da festa do Orelha, chegou
com tudo! Zeca me convenceu a fazer as luzes para iluminar meu rosto e
minha mãe implorou para que eu pintasse as unhas. Lá fui eu
novamente me entregar aos cuidados de Tiago.
Ao chegar ao shopping, encontrei o Davi, que estava com um cara
absolutamente lindo, maravilhoso, belíssimo e esplendoroso.
– Oi, Tetê! Que coincidência te encontrar aqui!
– Oi, Davi!
– Este aqui é o Dudu, meu irmão. Lembra que eu te falei dele?
Então aquele era o Dudu? Nossa, Dudu. Nunca pensei que Dudu
fosse daquele jeito. Dudu era tipo… Uau! Duduau! Meu Deus! Como o
Davi nunca tinha dito que o irmão dele era um pedaço de céu? Meninos
não falam esse tipo de coisa, né? Não, não falam.
– Encantado – disse ele, tal qual o dia em que eu e o Davi nos
conhecemos.
– Encantada estou eu… nossa…
Sim. Eu uni essas palavras e transformei em cumprimento na
primeira vez que vi o Dudu. Eu devia ser banida do planeta, fato.
– É… – Ele ficou completamente sem graça.
Para, Tetê! Caramba! Não vai estragar as coisas!, briguei comigo
mesma.
– Desculpa! É… Eu quis dizer prazer, encantada! Desculpa.
– Ah, sim… Prazer. – E ele estendeu a mão para me cumprimentar. –
Veio comprar presente pro Orelha? – perguntou Davi, salvando-me da
saia justa.
– Já comprei. Vim só ao salão de beleza mesmo.
– Salão de beleza? Nem precisa! Você já é tão bonita… – comentou
Dudu.
Meu Deus!!! O que foi que você falou?, tive vontade de perguntar.
Ah… Está retribuindo meu encantada, com certeza. Menino
educado, pensei, respondendo à minha própria pergunta. Ou é isso ou
não enxerga direito. Deve ser míope. Ou então é só doido, concluí.
– Desculpa, tô brincando – corrigiu ele, diante da minha mudez.
– Sabia… – pensei em voz alta.
– Na verdade, eu não estava brincando… Quero dizer… Não nesse
sentido…
– Arrã… – intrometeu-se Davi. – Então… Eu comprei pro Orelha um
livro sobre física quântica. Acredito que ele goste do assunto. Quem não
gostaria, não é mesmo? – perguntou.
Uau! Quem GOSTARIA de ganhar um livro de física quântica no
aniversário de 16 anos?
– Claro! Geral gostaria! – menti. – Ge-ral!
Eu sou péssima! Péssima!
– Eu comprei uma camiseta mesmo. Não tem erro, né?
– Não tem – o Dudu respondeu olhando para mim.
– Quer que a gente te acompanhe até o salão? – Davi questionou. –
Vamos comprar uns docinhos portugueses no quiosque que fica no
mesmo andar.
– Docinhos portugueses? Ora, pois, não sabia que gostavas…
– Não gosto – reagiu Davi.
– Nem eu. É pra nossa avó, pra ela ficar mais alegrinha –
complementou Dudu.
Own… Que meninos mais fofos! Tão fofos que deu vontade de morder
a bochecha deles. Sou meio doida, né? Tudo bem que ninguém deu a
mínima para a minha quase perfeita imitação do português de Portugal.
– Claro! Vamos lá! – aceitei a gentileza.
Os irmãos fofura me deixaram na porta do salão. Perguntei se o Dudu
iria à festa e ele disse que não sabia, já que estava se achando “velho”
para esse tipo de comemoração. Fiquei decepcionada e dei um jeito de
incentivar.
– Mas tem que ir pra se enturmar. Você quase não deve ter mais
amigos aqui no Rio! Ficou quanto tempo em Minas?
– Praticamente dois anos. Mas agora voltei pra ficar.
– Oba!
Sim. Eu. Falei. Oba. Ele apenas sorriu. Eu disfarcei.
– Bom, obrigada pela companhia! Espero ver os dois hoje à noite na
festa! – falei e fui me despedindo de longe, já entrando no salão.
Meu pensamento ficou estacionado naquela imagem do Dudu. E era
estranho porque eu fiquei com muita vontade de voltar a vê-lo e
torcendo o tempo todo para ele ir à festa. Só me distraí mesmo quando o
Tiago chegou na recepção do salão de beleza.
E não é que meu segundo dia de dondoca na semana foi divertido? Ri
muito com ele e com a manicure, a Elza. Ô, mulher engraçada. Quando
eu elogiei seu cabelo, ela rebateu:
– Amor, não é só o cabelo, eu sou toda linda. Linda de bonita! – disse
ela, que talvez não fosse considerada linda de bonita pela maioria das
pessoas, mas seu bom humor a deixava especial.
Tiago cismou de fazer escova no meu cabelo para que eu conseguisse
“visualizar melhor” as luzes. Ai, ai, esses cabeleireiros. Mas,
realmente, com o cabelo mais liso (não muito, porque nunca gostei de
cabelo muito liso, acho que fico com cara de biscoito recheado) as luzes
apareceram mais. E pude encher a boca para dizer:
– Ficou lindooooo!
Em seguida, dei um abraço apertado no cabeleireiro mais fofo do
mundo e fui toda confiante (linda) e serelepe para casa.

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