Capítulo 15


EU ESTAVA ANSIOSA, quicante. Perdi até a fome durante a semana,
algo inédito na minha vida. (O que achei ótimo, para falar a verdade.
Emagreci pelo menos um quilinho.) Comecei a me empenhar em
receitas mais saudáveis, como aconselhou Zeca. Substituí o pão branco
de todos os dias por uma incrível tapiolete (mistura de tapioca com
omelete). Uma delícia saudável e que me mantinha de pé e sem fome até


a hora do recreio.

culpa, sem celulite. 



Era a minha primeira festa de verdade, com amigos de verdade.
Demorei um tempão para me arrumar. Tomei banho com o maior
cuidado para não estragar o cabelo, coloquei o vestido com a ajuda da
minha mãe, que me deu uma mãozinha também com a maquiagem, uma
coisa que eu nunca tinha usado. Pedi para ela não exagerar, para eu não
ficar diferente do que eu sou normalmente, mas adorei o resultado.
Parecia um ritual tudo aquilo, e eu estava curtindo cada minuto de
felicidade por ter uma festa para ir, por gostar de me preparar para ela,
por contar os segundos para me divertir com minha turma.
Na hora de sair, meu pai e minha mãe resolveram me levar (eles
tinham parado de brigar e pareciam mesmo querer ficar juntos), e meu
pai teve uma ideia genial.
– Eu vou entrar com você no clube, tá, Tetê?
– Não mesmo, pai. Pra quê? Não é festa de criancinha! – reagi,
enfática
– Pra sentir o ambiente, Tetê! – minha mãe interferiu.
– Mãe, o ambiente é de gente da minha idade, não da de vocês, por
favor! Vocês querem me constranger na frente dos meus amigos? Aliás,
vamos dar carona pra Samantha e pro Zeca, que estão chegando, já me
mandaram mensagem – insisti, já morrendo de vergonha do show que
eu ia protagonizar.
– E se eu ficar de longe espiando a boneca do papai? A boneca loira
do papai?
– Para, não tô loira! E podem tirar essa ideia da cabeça! – protestei.
– Tudo bem. Mas que a minha princesa está linda, está! – elogiou
mamãe.
Ainda bem que eles desistiram daquele absurdo. Respirei aliviada.
O Zeca chegou todo estiloso, de tênis prateado, calça diferentona e
camiseta divertida. Aquele ali tinha estilo. Quando me viu, soltou uma
de suas pérolas.
– Me amarrota que tô passado! Você está divaaaaa! Esse cabelo vai
tombar todos os cabelos da festa!
Apenas sorri, mas meu pai logo cortou a empolgação dele.
– Então você é o famoso Zeca?
– Em carne, osso e purpurina.
– Vocês estão namorando? Quero respeito com minha pequena, hein?
“Minha pequena” foi forte. Fortíssimo. Eu sei. Eu sei!
– Deus me livre! Eu estou é cuidando da sua filha para que ela, quem
sabe, arrume um namorado.
– Ah… Ok… Mas… não entendi o “Deus me livre”.
– Pai! – briguei.
– Não deixe as crianças constrangidas, Reynaldo – minha mãe
aliviou a barra.
“Crianças” é óóótimo!
– Obrigada por cuidar da nossa menina. Ela realmente está linda.
Nunca a vi assim – elogiou papai.
Sorri com a boca inteira.
– Até sorrindo ela está! Você fez milagre, Zeca! – complementou
minha progenitora, toda feliz com minha felicidade.
Quando Samantha chegou e me viu, também deu um escândalo:
– Meu Deus! Quem é essa garota linda? Gata, você tá incrível! Nem
parece você!
Uopaaaa!
– Desculpa! Desculpa! É que você tá muito bonita mesmo! Amei
tudo! Roupa, cabelo, maquiagem.
– Maquiagem foi por minha conta – entregou minha mãe. – Suave
como deve ser. Tetê ainda é uma criança. Mesmo usando esse sutiã com
enchimento, parece uma menina de 10 anos.
– Mãe!
– Tá bom… Doze e não se fala mais nisso – debochou ela.
Entramos todos no carro e fomos ao clube onde o Orelha
comemoraria o aniversário. Meu pai só foi embora quando acenamos lá
de dentro para ele. Pais, esses seres preocupados e superprotetores…
Ao entrarmos no salão, estávamos certos de que seria uma festa
animada. Mas foi bem (beeeeem) mais que isso.
Chegamos cedo, ainda estava bem vazio. Os pais do Orelha tinham
grana, fizeram o maior festão, coisa chique e despojada ao mesmo tempo.
Amo quem consegue ser chique e despojado. Na próxima vida, quero vir
assim. E com a cara da Angelina Jolie.
A festa era uma ode ao Flamengo: decoração, bandejas, garçons,
doces, móveis. O aniversariante logo veio nos saudar com sua alegria
habitual:
– Faaaaala, galera!
– É festa temática? Sério? Achei que só crianças faziam isso! –
alfinetou Zeca.
– Meus pais me tratam como criança. O que eu posso fazer? Mas pelo
menos me deixaram chamar umas gostosas tipo dançarina de programa
de auditório pra ficar nos queijos.
– Queijos? – estranhei.
– É como se chamam os palquinhos de boate de striptease, Tetê –
explicou Zeca. – É uma ingênua, essa menina.
– Eu também não sabia o que era – revelou Samantha.
– Não tem uns boys magia dançando também? Que ser humano
horrível é você, Orelha! – brincou Zeca.
– Concordo! Tinha que ter! – completei.
– Seus pais acharam normal ter mulher dançando de short e
camiseta do Flamengo? – questionou Samantha.
– E meião e chuteira? Claro que não! Quer dizer, meu pai adorou, já
minha mãe… – comentou, caindo na gargalhada.
Orelha fez questão de nos apresentar para os pais e os avós (todos
foférrimos e simpáticos como ele) antes de irmos para o lado de fora ver
a vista. E que vista! A Lagoa ali, aos nossos pés, sorrindo para nós. Como
é lindo o Rio de Janeiro, meu Deus! E a noite estava incrível, lua cheia!
– Mandei fazer pra vocês, olha que romântico eu sou! – Orelha fez
graça.
Ficamos ali um tempo até que o aniversariante soltou a frase que me
fez congelar:
– Alá quem chegou! Faaaala, Erick!
Eu nem olhei para trás. Não queria ver meu lindo chegando com a
Estupidina. Um oco tomou conta do lugar onde fica meu coração. Foi o
vazio mais estranho que senti. Era impressionante. O simples fato de
saber que eu e ele estávamos no mesmo recinto mexia comigo.
– Fala, Orelha! Fala, Zeca! Beleza? – cumprimentou meu lindo.
Continuei olhando para a Lagoa com o corpo quente e o coração a mil,
tentando desacelerar e aparentar normalidade. – E aí, Samantha? Tudo
bem?
– Oi, Erick. Tudo, e você? – Samantha devolveu o cumprimento.
– E essa quem é? Sua amiga? – ele perguntou olhando na minha
direção.
Caraca! O Erick não me reconheceu de costas! Caraca! Mil vezes
caraca!
– Nossa amiga. Não reconhece? Sério? Tô bege! – Zeca se espantou.
E então eu me virei. Envergonhada, mas confiante. Confiante como
nunca havia estado na vida.
– Tetê?! Uau!! Como você está bonita!
Erick usou uau. Brasil, polo norte e China! Erick, o divo, usou UAU
para me elogiar! Fiquei roxa.
– Eu? Ah, que é isso… Bonito tá você.
– Bonitos estamos todos, mas nada perto dessa vista. Ela sim é a
definição de boniteza – filosofou Zeca, para me cortar e não me deixar
elogiar mais meu príncipe.
– Mas você tá muito bonita mesmo, Tetê.
Erick estava realmente impressionado, pelo jeito.
– O aniversário é meu mas quem tá de parabéns é ela, né não, Erick?
– brincou Orelha.
– Ô se tá…
Pode parecer exagero, mas o Erick nem piscava. Ele parecia estar
muito chocado. Mal conseguia falar.
– Rolou uma… Desculpa. Nada – Erick começou a falar.
– Fala, seu lin… Desculpa. Fala, Erick – pedi.
Como eu ficava idiota na frente dele!
– Não quero te magoar, nem nada mas… Mas você tá… Sei lá, tá…
Diferente. Rolou uma transformação aí? – ele procurou ser delicado ao
falar.
– Claro que rolou. Corte de cabelo, luzes, unhas feitas, pernocas
depiladas, maquiagem, roupa incrível… Resolvi mostrar pra essa garota
que não existe mulher feia, existe amigo que dá conselho ruim! –
brincou Zeca.
– Imagina… Eu nunca tive amigo… Nem pra dar conselho bom nem
pra dar conselho ruim. – Baixei os olhos.
– Você está linda, Tetê! – elogiou Dudu.
Sim! Duduau tinha acabado de chegar com o Davi.
Eu arregalei os olhos. Três elogios assim? Do nada? Será que eu
estava realmente bonita? Ou será que era um sonho bom?
– Acabei de dizer isso pra ela, Dudu – comentou Erick.
– Não, não! Você disse que ela estava bo-ni-ta, não linda!
Quá! Quase que eu disse isso. Mas obviamente não disse. Quem
disse foi o superZeca.
– Que erro gravíssimo, então. Você está linda, Tetê! – Erick se
corrigiu, com as duas bochechas levemente rosadas. – Linda! –
enfatizou, olhando bem no fundo dos meus olhos por intermináveis e
sensacionais segundos.
Para o mundo que eu quero descer! Dois deusos falando pra
gorducha dentuça aqui que eu estava linda? Não pode ser, alguma
coisa está errada, pensei.
– Tá Diva Master das Galáxias! Isso que ela tá, meninos! – comentou
Zeca, fazendo o povo rir, inclusive eu.
– Brigada, gente… – agradeci. – Cadê a Metidina? Ups! Desculpa! A
Convencidina! Ai, mil perdões! A Valentina! Ai, meu Deus! Desculpa,
Erick! Desculpaaaa!
Eu era uma burra mesmo. Agora o menino ia me odiar para o resto da
vida. Mas, para surpresa geral, Erick, o lindo, caiu na gargalhada.
– Metidina? Convencidina? Nunca vou contar isso pra ela, mas que é
engraçado, é. Nada de contar pra ela que eu ri desses apelidos, hein?! –
pediu, contorcendo-se de rir. – Maluquina. Ciumentina. Maletina! –
complementou.
Zeca me olhou com uma cara esquisita, querendo rir, querendo
alfinetar. Parecia que nos conhecíamos havia tempos. Sabia o que ele
queria dizer só de olhar para ele.
– Quem é essa? – perguntou Dudu.
– A namorada do Erick – respondeu Davi, que estava bem
mauricinho, de camisa polo preta, mas muito fofinho…
E quando eu ainda acreditava estar sonhando, a realidade me deu um
tapa na cara.
Valentina, Bianca e Laís adentraram a festa. Lindas. Magras.
Impecáveis. Indefectíveis. Esvoaçantes. Pareciam plumas que
desfilavam atravessando o salão. Nossa, atravessando o salão é péssimo,
o cúmulo da breguice. Mas elas estavam o oposto de bregas. Quando viu
Erick, Valentina correu em câmera lenta na sua direção com os braços
abertos e o sorriso mais branco do mundo e o abraçou forte. Como eles
eram lindos juntos… A inveja bateu, confesso. Ah, bateu mesmo.
– Como você tá lindo, meu amor!
– Linda está você – devolveu ele, todo apaixonado, partindo meu
coração. – Tem certeza que quer continuar comigo? Mesmo eu
parecendo um mendigo perto de você?
– Quero você pra sempre!
– Pra sempre é muito tempo! – alfinetou Zeca.
Valentina cretina deu a língua para meu amigo.
– Tetê! Que espanto! Nem te reconheci. O que houve? Lipo? Plástica?
Botox? Progressiva? Extreme Makeover? – perguntou a namorada do
meu lindo, simpática como sempre.
– Nada disso. Rolou uma fada-madrinha! Ou seja, eu! – rebateu Zeca.
– E se eu fosse a sua, teria dito que Deus é justo, mas esse seu vestido é
mais ainda, né, não, Valentina?
– O que é bonito é pra se mostrar, ok? – rebateu ela, irritada.
– A Valentina tem as pernas mais lindas do mundo, tem mais é que
mostrar mesmo – comentou Laís, a maior puxa-saco da Cafonina.
– Ai, amo essa músicaaaa! Vamos dançar! – pediu Bianca.
– Bora! – disseram todos.
Não! Voltem aqui!, implorei em pensamento, sem sucesso. Eu sou
péssima dançando. Só danço em casa. Sou sem ritmo, desengonçada,
pareço um hipopótamo perneta!
– Vem, Tetê!
– Vou, não, Zeca. Vou ficar aqui!
– Ufa! Que alívio. Também vou ficar. Não suporto essa música –
disse Samantha, para minha infinita alegria.
Quando todos já tinham ido, Samantha me puxou para o canto e
sussurrou:
– O Orelha falou que tem aquelas bebidas com um pouquinho de
vodca. Anima?
– Nem um pouco. Sou zero álcool.
– Mas é pouquinha coisa… E tem UTI móvel na saída, caso alguém
exagere.
– Obrigada, mas vou passar. Não suporto nem o cheiro de bebida
alcoólica.
– Ai, Tetê. Que criança! – desdenhou Samantha. – Mas você pode me
fazer companhia até o bar?
– Vão servir vodca pra você?
– Claro! Só pedir com jeitinho e dizer que tenho 18.
Uau! Que surpresa. E eu achando que a Samantha era toda certinha.
Primeiro ela pediu uma caipivodca de lichia, com muito gelo. Depois
uma de maracujá. Ambas “bem fraquinhas”, segundo ela.
– Praticamente dois sucos – decretou depois de tomar as duas
praticamente num gole só. – Agora estou boa pra dançar. Bora pra pista?
Fui. Fazer o quê? Eu é que não ia lá para fora ficar sozinha olhando
para a Lagoa. Até o Davi estava dançando! E muito direitinho, para
minha surpresa. Todo timidinho, jeitoso com braços e pernas, cantando
as músicas. Fofo!
– Uhuuuuu! – gritou Samantha ao entrar na rodinha onde estavam
Davi, Dudu e Zeca.
Ao lado, Valentina dançava praticamente pendurada no meu lindo
(que ódio!) e Bianca e Laís sensualizavam como se estivessem num
ensaio fotográfico.
Todos olharam para Samantha, que estava mais feliz que o normal.
Valentina, então, olhou com um desprezo que nossa senhora!
– Odeio essa garota! – disse a Metidina para o Erick e para quem
mais quisesse ouvir.
– Também te amo, sua linda! – rebateu Samantha, a irônica, tascando
um beijo na bochecha de sua arqui-inimiga.
Os olhares, cabreiros e espantados com a cena, estavam todos sobre
minha amiga, (bem) mais animada que o geral, um tantinho
descontrolada e louca para bater bundinha com alguém. E quem foi a
eleita? Quem?
– Não! Bundinha, não! – reclamei, quase chorando.
– Deixa de ser boba, Tetê. Funk tem que ter bateção de bunda!
Uhuuuu! Vem, novinha, vem, novinhaaaa!
Ui…
A novinha aqui ficou roxa de vergonha, mas achou melhor concordar
logo e fazer dancinha de nádegas com ela. (Adoro a palavra nádega
também. Taí. Eu sou estranha mesmo.)
– O que houve com a Samantha? – Zeca sussurrou no meu ouvido.
– Ela bebeu? – Davi sussurrou no meu outro ouvido.
– Arrã. Vodca que parecia suco – respondi.
– Isso não vai dar certo… – comentou Duduau, o gato, pegando minha
mão para dançar com ele e me salvar da louca da Samantha-batedora-denádegas.
Minhas mãos começaram a suar. E eu, de cabeça baixa,
megaenvergonhada, fiz o que sabia fazer: um passinho para a direita,
outro para a esquerda. Um para a direita, outro para a esquerda.
– Você dança bem, hein?
– Você andou bebendo também, Dudu? – fiz graça.
Nossa, eu estava confiante e piadista!
– Não! Eu não bebo! Eu só queria dizer que…
– Foi uma brincadeira, Dudu. Relaxa! O que eu quis dizer é que
danço supermal, só um bêbado pra achar que danço bem…
– Ah… Desculpa… Eu sou meio lento pra captar ironia… –
argumentou ele. – Suas mãos estão suadas…
Droga! Ele tinha notado. Claro que estavam! Pensa que alguma vez na
vida um menino pegou na minha mão para dançar numa festa? Era a
minha primeira festa!
– É que meu refrigerante estava num copo bem gelado – tentei
justificar.
– Tudo bem suar. Eu suo muito também. Especialmente na nuca. E
você, sua na nuca também?
E então ele rapidamente levou uma das mãos até a minha nuca. E eu
me arrepiei toda. Inteirinha! Da cabeça aos pés! Meu Deus do céu!
Brasil, polo norte e China, uma mão masculina estava pousada sobre a
minha nuquinha!
– Não, você sua mais nas mãos, mesmo – diagnosticou ele, olhando no
fundo dos meus olhos e deslizando aquela mão de dedos longos e veias
incríveis pelo meu pescoço e braço até chegar novamente à minha mão.
Morri. Morri mil vezes. Não aguentei a pressão daquele olhar e
desviei meus olhos dos dele. E eles caíram justo nos olhos de quem? Do
Erick, que olhavam para mim! E pensa que o Erick desviou o olhar do
meu? Nananinanão! Ficou lá, me olhando dançar. Olhando seriamente.
Fixamente. E eu amei olhar para ele me olhando. Foi tipo… a melhor
sensação da vida! Eu não queria acordar daquele sonho bom! Mesmo
com a Vaquina Estupidina pendurada no pescoço do meu lindo, falando
coisas que meu lindo parecia odiar, meu lindo só tinha olhos para mim.
Mentalmente, criei hipóteses para tal olhar:
  • Alternativa a – meu vestido rasgou.
  • Alternativa b – tô com meleca no nariz.
  • Alternativa c – tem comida no meu dente.

Só pode ser uma dessas coisas, pensei. Mas meus olhos desviaram
dos olhos do Erick, meu lindo, assim que Dudu, meu lindo 2, me puxou e
me jogou para trás. E eu caí. Sim, eu caí na pista. Com ele. Todos rindo
muito, gargalhadas intermináveis. Nossa, realmente muito engraçado
duas pessoas se estabacando no chão. Rá. Rá. Rá.
– Desculpa, Tetê. Mil desculpas. Queria só fazer um passo que
aprendi na aula de dança de salão com minha ex-namorada.
– Imagina, Dudu!
– Como deu pra ver… Tenho dois pés esquerdos, né?
– Que é isso? Eu é que tenho!
Sim, senhoras e senhores! Dudu e eu tivemos essa conversa sentados
na pista. Dudu é tudo!, pensei, sem ligar a mínima para o mico de ter
caído.
Quando já estava em pé, uma mão gelada segurou a minha e puxou.
Era Samantha.
– Passando mal, amiga. Muito. Preciso vomitar. Vem comigo no
banheiro, por favor!
– Mas eu odeio vômito. Se vejo vômito, vomito também! – alertei,
quase vomitando com a palavra vômito.
– Arrã! Anda! Vem!
Sem alternativa, torcendo muito para que ela não vomitasse no
caminho da pista ao toalete, fui correndo com ela. Amigo é para essas
coisas, né?
Chegando lá, demos de cara com uma pequena fila (sim, a festa do
Orelha estava bombando!).
– Não consigo esperar!
– Não, Samantha! São só três pessoinhas, aguenta aí, pelo amor de
Deus! – implorei, apelando para o diminutivo, que sempre conquista as
pessoas.
Não conquistou a Samantha.
Ela agarrou meu braço e me puxou para fora do banheiro.
– Louca, esse é o masculino! Não vou entrar aí com você – sussurrei.
– O que você bebeu, Samantha?
A pergunta foi feita pelo Erick. O divo, deuso, espetacular e meu
lindo Erick, que estava saindo do banheiro quando viu a doida
querendo me levar para dentro do toalete masculino.
– Vodca que parecia suco! – respondi por ela. – Ela quer vomitar! E
eu odeio vômito! Não sei lidar! Não sei lidar! – reclamei, beirando o
desespero.
– Então deixa comigo. Vem que eu te ajudo, Samy. Tetê, vigia a porta
pra gente.
Atônita, fiz que sim com a cabeça enquanto os dois entravam para o
momento vômito. Argh! Tensa do lado de fora, fui obrigada a ouvir
aquele barulho típico de quem está vomitando e quase golfei a
maravilhosa coxinha que tinha acabado de devorar. Ia ser um
desperdício, porque não tem coisa melhor que coxinha.
Que cena surreal tomar conta do banheiro dos homens para sua
amiga vomitar sem ser interrompida. Os barulhos de vômito cessaram e
nada de os dois abrirem a porta. Comecei a ficar nervosa. Teria
Samantha desmaiado, batido com a cabeça e morrido na mesma hora?
Erick desmaiou ao ver Samantha morta e estirada no chão? Os dois estão
mortos no chão frio do banheiro?
– Viu o Erick, Tetê? – perguntou Malevolina.
– Vi, tá aí dentro com a Samantha. Ela tava passando mal e…
– O quê? Como assim você deixou os dois entrarem juntos no
banheiro?
– Ela tava passando mal e ele se ofereceu pra ajudar porque eu
contei que não suport…
– Cala a boca e me ajuda a arrombar essa porta!
– Não, Valentina! Ela está passando mal!
– Duvido!
– Está sim, bebeu duas vodcas!
– Mentira!
– Claro que é verdade! Eu vi, eu tava com ela!
– Acabei de ouvir a mãe do Orelha contar pra uma amiga que botou
água nas garrafas de vodca pra gente não consumir álcool!
Arregalei os olhos, chocada.
– Mas…
– Deixa de ser tonta! A Samantha é louca pelo Erick, sempre foi!
Mais que você, até!
– Mais que eu? Alou! Eu…
– Cala a boca e me ajuda a arrombar essa porta, Tetê! Erick, sai daí
com essa garota! Erick! – Valentina berrava socando a porta
repetidamente com toda sua força. – Samantha, eu sei o que você tá
fazendo! Você tá mentindo que está bêbada pra pegar meu namorado.
Larga do pé dele, sua estranha! Ele não te quer! Nunca te quis! Aceita
que dói menos! – Eram as palavras de Valentina.
Eu estava bege. Zeca chegou e foi logo querendo saber:
– O que é que tá acontecendo? Por que você tá esmurrando a pobre
da porta?
– Porque a dissimulada da Samantha veio atrás do Erick. Me ajuda,
Zeca?! – implorou Valentina.
Zeca me olhou com cara de “Ih, deu ruim!”. Eu devolvi o olhar com
uma cara de “tô cho-ca-da com isso tudo”.
– Fingir que está bêbada é muito golpe baixo! – gritou Metidina. –
Erick! Erick! – gritava esmurrando cada vez mais.
De repente, a porta se abriu.

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