ACORDEI DOMINGO na esperança de receber um telefonema ou uma
mensagem do Duduau. Não rolou nem uma coisa nem outra. Ah,
tudo
bem. Por que ele ligaria para a louca que tapa a boca e se
estabaca no
chão e só fala besteira? Mas a verdade é que eu não
conseguia parar de
pensar nele. E cada vez que eu pensava, sentia um frio na
barriga. Mas
eu pensava também no Erick, e fiquei imaginando se ele tinha
mesmo
terminado com a Valentina, e se estava finalmente livre da
cretina. Será
que um dia eu teria uma chance com ele? Nossa, quantos
sentimentos
misturados.
Fui para a mesa tomar café e a família estava toda reunida.
Parecia
que estavam me esperando para começar o interrogatório.
– Foi boa a festa, filhota? – perguntou minha mãe.
– Maravilhosa! – respondi, feliz da vida.
– Você está tão bonita, minha querida… – disse meu vô lindo.
– Um tipão – ratificou meu biso.
– Obrigada, mas vocês são suspeitos!
– Não precisa de peito nenhum, não fala bobagem, menina!
Vocês não
podem dar peito de presente pra essa menina, hein? Peito de
silicone é
muito artificial! – desandou a falar meu biso, levando a
gente à
gargalhada.
– Que peito, papai? A Tetê falou que VOCÊS SÃO SUSPEITOS!
– Aaaaahhh… – fez ele. – Faz mais sentido mesmo.
– Mãe, peguei o telefone de um dermatologista ótimo. Posso
marcar?
– Claro, boneca! Se quiser, eu vou com você.
– Muito bem! Vai se livrar dessas pipocas! – entrou na
conversa
minha avó.
– Mamãe! Não fala assim! Ela já tentou da outra vez!
– Tô brincando, Helena. Mas e então, algum namorico ontem?
– Namorico? Vó, quem é que fala namorico? – debochei.
– Eu, ué. E não desconversa. Teve namorico? Teve
bitoquinhas?
Suspirei revirando os olhos.
– Não, vó!
– Então o que é esse olho brilhando aí? – perguntou meu avô.
Fiquei azul de vergonha.
– Ih! Olha aí! Eu estava blefando, mas parece que a festa
foi boa
mesmo, hein! – decifrou ele.
– Você beijou alguém? – perguntou minha mãe.
– Você ficou? Você ficou com algum, algum, algum garoto?
Ficou?
Ficou? Fic…
– Não, pai!
– Mas beijou de língua?
– Vó! Não! Se eu não fiquei eu não beijei ninguém! Ai,
gente! Como
vocês são chatos! Vamos mudar de assunto, por favor?
Obrigada, de
nada.
Família…
Meu celular fez plim. Dei um pulo. Será que era o Dudu? Ai,
meu
estômago esfriou e meu coração disparou.
Mas não era.
SAMANTHA
Amiga, pode falar?
TETÊ
Claro! Você sumiu ontem!
– Filha, celular na mesa neeeem pensar – brigou minha mãe.
TETÊ
Te chamo daqui a pouco.
Vou só terminar de tomar café
Droga! Eu tava doida para saber o que tinha acontecido, se
ela sabia
alguma coisa do Erick e da Valentina! Tudo bem que, com a
entrada do
Dudu em cena, eu me esqueci disso, mas agora já estava de
novo
mortinha de curiosidade. Terminei o café e fui para o
quarto.
TETÊ
Já posso falar. Quer por áudio?
SAMANTHA
Agora quem não pode sou eu.
Tô subindo a serra com meus irmãos
e meus pais e enjoo digitando.
A gente se fala segunda.
TETÊ
Segunda?
Eu queria ter colocado um emoji de espanto depois do ponto
de
interrogação, mas acho que ela ia me achar fofoqueira. Mas
poxa… Como
assim só “segunda”?
SAMANTHA
O sinal é péssimo aqui em Vassouras…
TETÊ
Ah tá
Drogaaaaaaa! O que fazer com a curiosidade? Eu só ia saber
segunda? Que mundo injusto e cruel! Como eu ia saber se o
Erick e a
Metidina ainda estavam juntos ou não?
Resolvi ler um pouco, mas eu não conseguia me concentrar
muito,
relembrando as cenas da noite anterior. E um sorriso bobo
brotava no
meu rosto. Cochilei um pouco à tarde e depois fui ao teatro
com meus
avós (sim, eu gosto de teatro). No meio do espetáculo, senti
um
tremelique no meu aparelho.
Ah, deve ser a Samantha que conseguiu sinal, pensei.
Finalmente
vou saber do casal.
Mas era outra boa notícia.
DUDU
Oi. Tudo bem? Só pra saber se está tudo bem
com a senhorita ou se algum galo resolveu
cantar na sua testa.
O meu coração disparou. Era o Dudu! O espetacular Dudu! O
fofo e
inteligente Dudu. Gentil-e-que-abre-a-porta-do-carro Dudu!
Quase morri.
TETÊ
Ela continua só com as espinhas mesmo
DUDU
Que bom que nenhum galo apareceu! Te
atrapalho?
TETÊ
Hum, estou no teatro com meus avós.
DUDU
se fala.
TETÊ
Não! Posso falar agora!
Ainda não tocou o terceiro sinal!
Tarde demais. Perdi Dudu. Droga! E perdi para sempre porque
ele
não fez nenhum contato mais. Deve ter se arrependido de
trocar
mensagens comigo. Ou devia ter mil coisas melhores para
fazer do que
falar comigo pelo WhatsApp. Passei o resto da noite
esperando uma
mensagem dele que nunca mais chegou. E não consegui tirá-lo
da
cabeça.
Na segunda-feira, todos os comentários na escola eram sobre
a festa
do Orelha. E sobre a briga da Valentina, da Samantha e do
Erick,
obviamente. Não sei como as pessoas ficaram sabendo, mas o
fato é que o
MUNDO soube do barraco do banheiro, e agora toda a escola se
fazia a
mesma pergunta: Erick e Samantha ficaram ou não ficaram,
afinal? Era
viagem da cabeça da Valentina?
– Geral comentando o barraco! – fofocou Zeca. – Geral
querendo
saber de Valerick.
Eu ia dar minha opinião, mas nessa hora meu
celular apitou.
DAVI
Tetê, não vou conseguir ir à aula, mas está
tudo certo pra hoje à tarde lá em casa, ok?
TETÊ
Ok, mas tá tudo bem?
DAVI
Ontem à noite meu avô passou
Edema pulmonar. De novo.
Caramba! Por ISSO o Dudu não fez mais contato comigo ontem…
Tadinhos! E os dois têm que cuidar sozinhos do avô e
resolver um monte
de coisas. E são tão novinhos! Eu não sei se eu conseguiria
fazer isso
TETÊ
Puxa… Quer ajuda?
DAVI
Obrigado. Meu irmão tá aqui comigo.
A gente se fala mais tarde. Bjs
Ai, Dudu estava lá com ele. Dudu. E eu me perdi de novo nos
meus
pensamentos.
De repente, Erick entrou na sala e a sensação que eu tive
foi de que
todo mundo meio que prendeu a respiração. Mas ele não chegou
sozinho! Chegou de mãos dadas com a Valentina, que estava
com o nariz
mais empinadino que nunca. Então, eles ainda eram namorados?
E eles
não tinham terminado nem brigado?
Que decepção…
O casal 20 sentou no fundo da sala, como era de costume. E
ambos
pareciam mais apaixonados que nunca. Mas, ao contrário de
outras
manhãs, estavam silenciosos. Nem um pio da voz estridente da
Chatina.
Que estranho…
Não demorou muito para chegar Samantha, que adentrou o
recinto
com Orelha. Não! Eles não estavam ficando, só chegaram na
mesma hora!
De novo geral prendeu a respiração. Todo mundo olhando sem
piscar
para o casal e para Samantha. Para Samantha e para o casal.
Para o casal,
para Saman… Ah, você entendeu.
Valentina virou de costas e abraçou Erick. Samantha parecia
bem.
Sem culpa, sem ressentimentos. Sentou-se ao meu lado.
– E aí? Como foi seu domingo? – perguntou ela, como se nada
tivesse
acontecido.
– M-meu domingo? Ótimo. E o seu? – respondi, tentando
aparentar
naturalidade.
– Melhor impossível. Adoro serra com calor. Tô até com
marquinha
de biquíni, olha.
– Arrã. Marquinha, ok.
Não resisti e fui direto ao ponto:
– Tá todo mundo sabendo da sua briga com a Valentina…
– Eu sei. Mas tenho que ignorar e fingir que não estou morta
de
vergonha e destruída por dentro. E você, como amiga, precisa
me ajudar
a parecer natural – ela falou, mostrando a maturidade que eu
já tinha
percebido nela.
– Claro.
– Ri!
– O quê?
– Finge que eu contei uma coisa engraçadíssima pra você,
Tetê!
Anda! Ri! – implorou ela, baixinho.
E eu dei uma gargalhada que, sinceramente, mereceria o Oscar
de
Melhor Gargalhada Falsa. Arrasei. Simplesmente descobri
naquele
momento um dom inato meu. Nasci para dar gargalhadas falsas.
Com
direito a tapa na mesa e tudo. Foi muito engraçada mesmo a
não história
que a Samantha me contou. Que sucesso! Descobri que podia
ser uma
excelente atriz naquele minuto.
– Menos, Tetê. Tá doida? – bronqueou Samantha.
Tudo bem, se dependesse dela eu não ganharia o Oscar de
Melhor
Gargalhada Falsa. Escrevi para ela no caderno: #chata
#insensível.
Mostrei e ela fez uma careta para mim. O professor chegou e
o clima
tenso e pesado da sala logo foi amenizado. Mas o relógio
naquela manhã
andou a passo de cágado!
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