Capítulo 26

NA TERÇA-FEIRA, o dia fatídico do prazo da coordenadora, cheguei à
escola segurando meu celular com toda a minha força. Nele estavam
alguns prints que fiz da tela do computador do Dudu com a prova de que
a Laís tinha mandado a foto da Valentina. Nem passei na sala. Fui direto
para a sala da Conceição contar a verdade para ela. Não toda, porque
obviamente eu jamais falaria que o irmão do Davi é um hacker. Resolvi
mentir. Falei que um amigo do meu pai me ajudou.
– Você tem certeza, Tetê? Essa é uma acusação muito séria – disse a
coordenadora.
Então mostrei o celular. Conceição respirou fundo, olhou, analisou
tudo aquilo e ficou em silêncio alguns segundos. E pediu por telefone:
– Por favor, Janjão, diga para Laís, Samantha, Erick e Valentina do
primeiro ano do Ensino Médio que quero vê-los na minha sala
imediatamente.
Quando os quatro chegaram, se espantaram ao me ver lá.
– Nós já sabemos quem mandou a foto da Valentina – começou
Conceição.
– A apaixonadinha veio assumir a culpa? – espetou a Chatina.
– Acusar sem provas é uma coisa muito grave, Valentina. Muito
grave – falou a coordenadora.
– Mas eu tenho certeza de que foi ela, Conceição! – esbravejou a ex
do Erick.
– Claro que foi! – Laís (sim, Laís!) fez coro.
– Não foi, não. E estou bem impressionada por você ter dito isso,
Laís.
– C-como assim, Conceição? Não estou entendendo…
– Não mesmo? – insistiu a coordenadora.
– N-não… Não mesmo.
– A Conceição está chocada porque foi você quem mandou a foto da
Valentina pra geral! – resolvi falar logo.
– Você só pode estar maluca, garota! – revidou Laís, o suor brotando
na testa.
– Não estou, não! Foi você que mandou a foto da Valentina pra todo
mundo! – insisti.
– Repete isso se tiver coragem, sua recalcada! – Valentina entrou na
feira, digo, na conversa. – De onde você tirou essa ideia, garota? A Laís é
minha melhor amiga.
– Valentina, sei que você vai levar um susto, mas foi mesmo a Laís
que mandou as fotos – Conceição afirmou com a maior firmeza.
– Não acredito! Quero provas!
Que garota petulante! Pedir provas para a coordenadora?
E Conceição pediu que eu mostrasse a ela e aos demais presentes os
prints do meu celular.
– Só não perguntem como a Tetê conseguiu essas informações,
porque isso é sigiloso, e é o que menos importa na nossa situação.
– Isso só pode ser armação! – Laís tentou se defender.
– Jura que você vai continuar fingindo, Laís? Na frente da
Conceição? – falei.
– Mas não fui eu! – revidou Laís, já chorando.
– Claro que não, foi a Samantha! Ela nunca gostou de mim! E não
bastava ter ficado com o Erick, ela precisava me humilhar, chutar
cachorro morto – Valentina rebateu.
– Oi? Eu não precisava fazer isso. Eu já estou me sentindo vingada!
Não precisava fazer mais nada! Já estou com a alma lavada – explicou
Samantha. – Sei que vingança é uó, mas você me fez sofrer tanto,
Valentina, quando tirou o Erick de mim… E eu só fiz com você o mesmo
que você fez comigo quando fiquei com o Erick pela primeira vez!
Opa!
Isso aí era informação nova, Brasil, polo norte e China!
Que bafooooo! Então foi isso?
E Samantha continuou:
– Eu e o Erick sempre nos curtimos, vivíamos juntos, estudávamos
juntos, ele sempre foi megafofo comigo. Ficamos no maior clima bom um
tempão, até o dia da festa de uma menina que já saiu da escola, a
Gabriela, vocês devem se lembrar. A gente ficou e foi a noite mais linda
da minha vida. Mas eu não contava com a traição da Valentina.
– Você está delirando, menina – disse Valentina tentando disfarçar.
– Delirando? Você me esperou ir ao banheiro e agarrou o Erick na
maior cara de pau, Valentina. Lembra? E pior: você sabia que eu gostava
dele. Que eu não queria só ficar e pronto. Eu queria ficar com ele direto,
namorar… O Erick pode confirmar isso.
– É… É verdade, sim… – Erick disse, meio sem jeito.
Eu estava chocada. Por que ela não tinha me contado nada daquilo? A
Samantha era muito estranha… Quais seriam os motivos dela? Um dia
eu ainda ia tirar aquela história a limpo.
– As meninas me falaram que a Valentina pulou em cima de você,
Erick, no dia em que a gente ficou. Parecia um polvo com mil braços.
Que você até tentou escapar, mas… – Samantha contou.
– Ah, me desculpa, Samantha, ela não botou uma arma na cabeça dele
– eu não resisti.
– Exatamente, baleia! – a Cretina gritou.
– Modos, Valentina! – pediu Conceição.
Parecia que a coordenadora entendia aquilo tudo como um momento
em que verdades precisavam ser ditas, ouvidas e, principalmente,
sentidas.
– Sempre achei que o Erick gostava de mim – prosseguiu Samantha.
– Só que desde esse dia eles não se desgrudaram mais. Eles se
apaixonaram… Eu acho, né? Porque eu nem tive chance de dizer pra ele
quanto eu gostava dele – completou, olhando para o chão.
– Você gostava? – perguntou Erick.
Samantha enxugou as lágrimas e olhou fundo nos olhos dele.
– Eu gosto ainda… – revelou, envergonhada. – O pior é que parece
que ela fez uma aposta com as amigas de que ficaria com você naquela
noite. Foi péssimo. A Valentina não gostava de você de verdade. Era só
pra me machucar.
– Rá, rá, você tem criatividade mesmo, né? – Valentina riu com
ironia.
Eu estava me achando a pessoa mais ingênua da face da Terra, por
nunca ter imaginado que armações daquele jeito pudessem acontecer.
Até outro dia, eu era só a Tetê do Cecê, que vivia num universo paralelo
na outra escola, que nunca soube de nada, que nem desconfiava que esse
tipo de coisa acontecesse. Em que planeta eu estava? Eu nunca tive (e
acho que jamais teria) a malícia daquelas meninas.
– Se a Valentina é isso tudo de ruim, por que você defende tanto ela,
Samantha? – perguntei, genuinamente curiosa.
Eu não conseguia entender o comportamento das pessoas. Será que
algum dia eu ia saber lidar com todas aquelas informações?
– Não sei… Mentira. Sei, sim. Eu tenho pena dela. Ela tem
necessidade de ser aceita, bajulada, elogiada. E eu tenho pena disso. No
fundo, eu tenho pena da Valentina. Um dia ela vai entender que ser
bonita não é nada demais.
– Pena quem tem é galinha! – gritou Valentina. – Sua tonta!
– Modos, Valentina! – Conceição aumentou o tom de voz.
– Desculpa, Conceição, mas eu não posso ouvir isso e ficar calada. Eu
me amo, sou linda e querida! E você nem pra minha amiga serve,
Samantha.
– Servia até a hora que foi conveniente pra você, né? Mas aí você
cismou de ficar com o Erick e desistiu de ser minha BFF uns dois meses
antes da festa. Passou a me dar gelo, a me excluir… Lembra? Planejou
tudo.
Agora eu entendi tudo! Caramba… Mas, de novo, custava ela ter me
contado por que ficou com o Erick? Amigas não contam essas coisas?
Conceição enfim se meteu e voltou ao foco principal da questão.
– Entendo que vocês tenham muitas coisas para dizer uns aos outros,
jovens, mas agora a questão são as fotos que a Laís mandou. Você não
quer se defender, Laís? Prefere ficar negando?
– Fala alguma coisa, Laís! – pediu Valentina.
– C-claro que não fui eu. Por que eu faria isso? – Laís falou com a voz
tremendo.
E assim, sem plano, sem estratégia, sem saber no que ia dar aquela
situação em que eu tinha me metido, tomei coragem e revelei:
– Pra se vingar da menina que fez tão mal pra você no jardim de
infância. – Pausei para respirar e acrescentar uma coisa importante: –
Carol!
– Que Carol? O nome dela é Laís! – Valentina virou bicho.
– Para de falar assim com as pessoas, Valentina! – brigou Erick. –
Por favor, Tetê, explica, porque eu não tô entendendo nada, cara.
– O nome da Laís é Laís Carolina. E sua ex-namorada fez miséria com
a coitada quando elas estudaram juntas no jardim de infância.
– O quê? Como assim, Laís? Que história é essa de Carol? –
questionou Valentina.
Todos os olhares estavam voltados para Laís, que tentou disfarçar,
coçou a cabeça, o pescoço, virou a cabeça para o outro lado.
– Fala! – gritou Valentina.
Sem obedecer a amiga, Laís atacou:
– Posso saber como vocês descobriram? Entraram no meu
computador, é isso? Hackear é crime, tá?
– O quê? – perguntou Metidina, chocada, agora quase sem voz. –
Então… então é verdade?
Enquanto Laís pensava no que dizer, eu aproveitei para me
defender:
– Pior que hackear é querer que alguém leve a culpa por você –
acusei. – E só pra você saber, não tenho habilidade pra investigar nada,
mas temos como provar que foi você, Laís. Só acho que seria muito mais
digno da sua parte admitir agora do que ser desmascarada.
Poxa, ela tinha que contar a verdade logo!
– Laís… Eu… Eu não sei o que pensar… Eu… eu… Eu sempre fui sua
amiga! – disse Coitadina.
Silêncio. Novamente, todos os holofotes em Laís-ex-Laís Carolina. O
que ela diria? Que argumentos usaria? Diria a verdade, nada mais que a
verdade? Meias verdades? Mentiras sinceras que interessam? Parei.
Essa narrativa está péssima. Sigamos em frente.
– Não foi, não, Valentina! – defendeu-se ela, segura, firme. – Eu
passei anos querendo apagar a minha infância da memória, e a culpa é
sua!
Xiiii…
– Então foi você mesmo? – pressionou Valentina, quase explodindo
de raiva. – Traíra! – berrou, dando um tapa na cabeça da Laís.
Sim. Um tapa na cabeça da Laís.
– Você mereceu! – disse Laís, raivosa.
E então Conceição falou:
– Acabou a palhaçada. Quero as duas sozinhas comigo! Os demais

podem sair, por favor.


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