Caixa de Pássaros - Capítulo 14

A água fria do rio respinga na calça de Malorie enquanto ela rema. Sempre que isso acontece, ela imagina uma das criaturas no rio, juntando as mãos, jogando água nela, rindo de sua tentativa de fuga. Malorie estremece.
Ela lembra que o livro sobre bebês de Olympia lhe ensinou muitas coisas. Mas havia uma frase em Enfim... um Bebê! que causava mais impacto: Seu bebê é mais inteligente do que você pensa.
De início, Malorie se esforçou para aceitar isso. No novo mundo, bebês tinham que ser treinados para acordar com os olhos fechados. Tinham que ser criados com medo. Não havia espaço para coisas desconhecidas. Apesar disso, havia sim momentos em que o Garoto e a Menina a surpreendiam.
Certa vez, depois de tirar os brinquedos improvisados das crianças do corredor do segundo andar, Malorie foi para a sala de estar. De lá, ouviu algo se mover no quarto no fim do corredor do primeiro andar.
— Garoto? — gritou. — Menina?
Mas sabia que as crianças estavam no quarto delas. Não fazia nem uma hora que ela as havia trancado nos berços.
Malorie fechou os olhos e foi até o corredor.
Sabia o que era aquele som. Sabia exatamente a localização de cada objeto da casa. Era um livro caindo da mesa do quarto que Don e Jules dividiam.
À porta do quarto das crianças, Malorie parou. Ouviu um leve ronco vindo do cômodo.
Um novo barulho soou no quarto vazio. Malorie arquejou. O banheiro ficava a poucos metros de onde ela estava. As crianças dormiam. Se pelo menos conseguisse entrar no banheiro, poderia se defender.
De olhos fechados, com os braços erguidos em frente ao rosto, ela se moveu depressa, colidindo com a parede antes de encontrar a porta do banheiro. Lá dentro, bateu o quadril com força na pia. Tateou a parede, desesperada, e sentiu o tecido de uma toalha pendurada.
Amarrou-a com força em torno dos olhos. Deu dois nós. Depois, atrás da porta aberta, encontrou o que estava procurando.
O machado do jardim.
Armada e vendada, ela saiu do banheiro. Segurando o cabo do machado com ambas as mãos, andou devagar até a porta que sabia estar sempre fechada. Mas que agora tinha sido aberta.
Ela entrou no quarto.
Levantou o machado à altura dos olhos e deu um golpe cego. A lâmina bateu na parede de madeira e Malorie gritou quando ela se partiu, soltando farpas. Ela se virou e deu outro golpe, desta vez atingindo a parede oposta.
— Saia daqui! Deixe meus filhos em paz!
Ofegante, ela esperou.
Por uma resposta. Um movimento. O que quer que tivesse derrubado os livros.
Então ouviu o Garoto, a seus pés, chorando.
— Garoto?
Assustada, Malorie ajoelhou-se e logo o encontrou. Retirou a toalha do rosto e abriu os olhos.
Viu que o menino segurava uma régua nas suas mãozinhas. Ao lado dele estavam os livros.
Ela o pegou e o levou de volta para o quarto. Lá, viu a tampa de arame do berço aberta. Ela o pôs no chão ao lado do berço. Então fechou a tampa e pediu que ele a abrisse. O Garoto apenas a encarou. Malorie brincou com a pequena tranca e pediu que ele mostrasse se conseguia abri-la. E ele conseguiu.
Malorie deu um tapa nele.
Enfim... um Bebê!
Ela se lembrou do livro de Olympia. Que agora pertencia a ela.
E a única frase dele que tentava ignorar voltou à sua mente.
Seu bebê é mais inteligente do que você pensa.
A frase costumava deixá-la preocupada. No entanto, hoje, no barco, usando os ouvidos das crianças como guias, ela se agarra a essa ideia e espera que os filhos estejam mais preparados que qualquer um para o que pode acontecer no rio.
Sim, Malorie espera que eles sejam mais inteligentes do que aquilo que pode aparecer mais adiante.

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