Caixa de Pássaros - Capítulo 22

Malorie ouve algo se movimentar do outro lado da porta. Escuta também uma respiração ofegante. Algo está arranhando a madeira. Ela e os outros estão no hall. Felix acabou de gritar, perguntando quem era. No meio-tempo entre a pergunta e a resposta, parece que os arranhões podem estar sendo provocados por qualquer coisa.
Criaturas, pensa ela.
No entanto, não são as criaturas que estão à porta. São Tom e Jules.
— Felix! É Tom!
— Tom!
— Não tiramos os capacetes. Mas não estamos sozinhos. Encontramos cachorros.
Felix, suando, exala longamente. Para Malorie, o alívio é tão grande que dói.
Victor está latindo. Seu rabo balança. Jules grita para ele.
— Victor, amigão! Voltei!
— Muito bem — diz Felix para os outros moradores. — Fechem os olhos.
— Espere — pede Don.
— O quê? — pergunta Felix.
— Como vamos saber se estão sozinhos? Como vamos saber que não foram seguidos? Quem sabe o que pode ter entrado com eles aqui?
Felix faz uma pausa. Então grita para Tom:
— Tom! Vocês estão sozinhos? São só vocês dois e os cachorros?
— Sim.
— Não significa que seja verdade — lembra Don.
— Don — afirma Malorie, impaciente —, se alguém quisesse invadir esta casa, poderia fazer isso a qualquer momento.
— Só estou sendo cuidadoso, Malorie.
— Eu sei.
— Também moro aqui.
— Eu sei. Mas Tom e Jules estão do outro lado da porta. Eles conseguiram voltar. Temos que deixar os dois entrarem agora.
Don a encara de volta. Depois olha para o chão do hall.
— Vocês vão matar a gente um dia — diz.
— Don — avisa Malorie, percebendo que ele está, enfim, cedendo. — Vamos abrir a porta agora.
— É. Eu sei. Não importa que merda eu diga.
Don fecha os olhos.
Malorie faz o mesmo.
— Está pronto, Tom? — grita Felix.
— Estou.
Malorie ouve a porta da frente abrir. O som de patas no piso de cerâmica do hall faz parecer que muitas pessoas entraram ao mesmo tempo.
A porta da frente se fecha depressa.
— Alguém me dê uma vassoura — pede Felix.
Malorie ouve as cerdas da vassoura rasparem nas paredes, no chão e no teto.
— Tudo bem — diz Felix. — Estamos prontos.
O instante entre decidir abrir os olhos e fazer isso de fato é a coisa mais assustadora desse mundo novo.
Malorie abre os olhos.
O hall é uma explosão de cores. Dois huskies se movimentam com rapidez, farejando o chão, analisando as novas pessoas, analisando Victor.
A alegria que Malorie sente ao ver o rosto de Tom é avassaladora. No entanto, ele não está com uma aparência muito boa. Parece exausto. Sujo. Como se tivesse passado por uma experiência que Malorie pode apenas imaginar.
Ele está segurando algo. É branco. Uma caixa. Grande o bastante para que coubesse uma TV pequena. Sons saem de dentro dela. Arrulhos.
Olympia se adianta e abraça Tom, que ri enquanto tenta tirar o capacete. Jules já retirou o dele e se ajoelha para abraçar Victor. Cheryl está chorando.
A expressão de Don é uma mistura de surpresa e vergonha.
Nós quase brigamos feio, pensa Malorie. Tom ficou um dia e meio fora e a gente quase brigou feio.
— Ai, meu Deus! — exclama Felix, os olhos arregalados voltados para os novos animais. — Funcionou!
Os olhares de Tom e de Malorie se encontram. Ele já não tem mais aquele brilho de antes.
O que os dois enfrentaram lá fora?
— Estes são os huskies — diz Jules, agitando a mão na direção dos cães. — São amistosos. Mas demora um minutinho até se acostumarem.
Então, de repente, Jules solta um urro de alívio.
Como veteranos de guerra que voltam para casa, pensa Malorie. De um passeio pelo quarteirão.
— O que tem na caixa? — pergunta Cheryl.
Tom a ergue ainda mais. Seus olhos estão vidrados. Distantes.
— Nesta caixa, Cheryl — diz ele, segurando-a com uma das mãos e levantando a tampa com a outra —, há pássaros.
Os moradores da casa reúnem-se em torno da caixa.
— Que tipo de pássaros? — pergunta Olympia.
Tom balança a cabeça devagar.
— Não sabemos. Nós os encontramos na garagem de um caçador. Não fazemos nenhuma ideia de como sobreviveram. Achamos que os donos deixaram muita comida para eles. Como podem ver, fazem muito barulho. Mas só quando estamos perto deles. Nós testamos isso. Sempre que nos aproximávamos da caixa, eles faziam mais barulho.
— Então esse é o jantar? — pergunta Felix.
Tom abre um sorriso cansado.
— É um sistema de alarme.
— Um sistema de alarme? — pergunta Felix.
— Vamos pendurar a caixa lá fora — explica Jules. — Perto da porta da frente. Poderemos ouvir os pássaros daqui.
É só uma caixa com pássaros, pensa Malorie. No entanto, parece mesmo um avanço.
Tom fecha a tampa devagar.
— Vocês têm que nos contar tudo que aconteceu — pede Cheryl.
— Contaremos — diz Tom. — Mas vamos até a sala de jantar. Nós dois adoraríamos nos sentar por um instante.
Os moradores da casa sorriem.
Todos, menos Don.
Don, que havia declarado os dois como mortos. Don, que já estava reivindicando para si a comida deles.
No corredor, Tom coloca a caixa de pássaros no chão, encostada na parede. Então os moradores se reúnem na sala de jantar. Felix pega um pouco de água para Tom e Jules. Com os copos à sua frente, os dois contam o que vivenciaram lá fora.

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