Caixa de Pássaros - Capítulo 33

rio vai se dividir em quatro canais, disse o homem. O que você precisa pegar é o segundo à direita. Então não adianta se agarrar à margem direita e torcer para dar certo. É complicado. E você vai ter que abrir os olhos.
Malorie está remando.
E é assim que você vai saber que chegou a hora, explicou o homem. Vai ouvir uma gravação. Uma voz. Não podemos ficar o dia todo na beira do rio. É perigoso demais. Em vez disso, instalamos um alto-falante lá. A gravação toca sem parar. Você vai ouvir. É alta.
Clara. E, quando ouvir, vai ter que abrir os olhos.
A dor no ombro vem em ondas. As crianças, ao ouvirem a mãe resmungar, oferecem ajuda.
No primeiro ano que passou sozinha com as crianças, ela ouvia a voz de Tom o tempo todo.
Tantas ideias dele foram apenas enunciadas, nunca realizadas. Malorie, sem nada para fazer, tentou concretizar muitas delas.
A gente deveria colocar microfones no jardim, disse ele uma vez.
A ideia de Tom era aprimorar o sistema de alarme dos pássaros para amplificadores.
Malorie, sozinha com dois recém-nascidos, queria os microfones.
Mas como? Como ela conseguiria microfones, amplificadores e fios encapados?
Podemos ir de carro até algum lugar, disse Tom um dia.
Isso é maluquice, respondeu Don.
Não, não é. É só dirigir devagar. As ruas estão vazias. Qual é a pior coisa que pode acontecer?
Enquanto rema, Malorie se lembra de um momento decisivo no espelho do banheiro. Ela vira outros rostos espelhados. Olympia. Tom. Shannon. Todos imploravam, pedindo-lhe que saísse da casa, que fizesse alguma coisa para melhorar a segurança das crianças. Teria que arriscar a própria segurança. Tom e Jules não estavam lá para fazer isso por ela.
A voz de Tom naquela época... Sempre a voz de Tom. Na cabeça de Malorie. No quarto. No espelho.
Reforce os para-choques do jipe de Cheryl. Pinte as janelas de preto. Não se preocupe com o que atropelar. Apenas continue. Dirija a dez, doze quilômetros por hora. Agora você tem bebês em casa, Malorie. Precisa saber se alguma coisa estiver à espreita. Se alguma coisa estiver por perto. Os microfones vão ajudá-la a descobrir isso.
Ao sair do banheiro, ela foi até a cozinha. Então estudou o mapa que Felix, Jules e Tom haviam usado certa vez para planejar o caminho até a casa de Tom a pé. Ainda havia as anotações deles no papel. Os cálculos de Felix. Usando a escala, ela fez seus próprios cálculos.
Queria o sistema de alarme avançado de Tom. Precisava disso. No entanto, apesar da determinação recém-descoberta em si mesma, não sabia para onde ir.
Certa noite, bem tarde, enquanto os bebês dormiam, ela se sentou à mesa da cozinha e tentou se lembrar da primeira vez que dirigira até a casa. Fazia menos de um ano. Na época, sua mente se concentrara no endereço do anúncio. Mas por quais lugares ela passara no caminho?
Ela tentava se lembrar.
Uma lavanderia.
Ótimo. O que mais?
As vitrines estavam vazias. Parecia uma cidade-fantasma e você estava preocupada com a possibilidade de as pessoas que haviam publicado o anúncio não estarem mais na casa. Achou que talvez tivessem enlouquecido ou colocado tudo no carro e dirigido para bem longe.
Isso, muito bem. O que mais?
Uma padaria.
Ótimo. O que mais?
O que mais?
É.
Um bar.
Muito bem. O que estava escrito na fachada?
Não sei. Que pergunta ridícula!
Você não se lembra da tristeza que sentiu ao ver o nome da... O nome da... Do quê?
O nome da banda?
Da banda?
Você leu o nome de uma banda que se apresentaria numa data, duas semanas antes. Qual era? Nunca vou me lembrar do nome da banda.
Tudo bem, mas e da sensação?
Não me lembro.
Lembra, sim. Da sensação.
Eu estava triste. Assustada.
O que eles faziam lá?
O quê?
No bar. O que eles faziam lá?
Não sei. Bebiam. Comiam.
Isso. E o que mais?
Dançavam?
Dançavam.
Isso.
E?
E o quê?
Como eles dançavam?
Não sei.
Dançavam ao som de quê?
De música. Da banda.
Malorie levou a mão à testa e sorriu.
Isso. Eles dançavam ao som da banda.
E a banda precisava de microfones. A banda precisava de amplificadores.
As ideias de Tom permaneciam na casa feito fantasmas.
Faça como nós, diria ele. Como Jules e eu no dia em que demos uma volta no quarteirão. Você não podia participar de muitas daquelas atividades, Malorie, mas agora pode. Jules e eu saímos para procurar cachorros e depois os usamos para chegar à minha casa. Pense nisso, Malorie. Tudo meio que se seguiu, cada passo permitiu que o seguinte acontecesse. Tudo porque não ficamos parados. Nós corremos riscos. Agora você tem que fazer o mesmo.
Pinte o para-brisa de preto.
Don havia rido quando Tom sugerira dirigir às cegas.
Mas foi exatamente isso que ela fez.
Victor a ajudaria. Jules uma vez impedira que o cachorro fosse usado daquela maneira.
Mas Malorie tinha dois recém-nascidos no quarto no fim do corredor. As regras eram diferentes agora. Seu corpo ainda doía por causa do parto. Os músculos das suas costas estavam sempre tensos. Quando se mexia rápido demais, parecia que sua virilha poderia arrebentar. Ficava exausta com facilidade. Nunca tivera o descanso que toda nova mãe merece.
Victor, pensou então, ele vai proteger você.
Ela pintou o para-brisa de preto com a tinta que tinha no porão. Prendeu meias e suéteres na parte interna do vidro. Usando a cola para madeira que achou na garagem e a fita adesiva que estava no porão, prendeu cobertores e colchões nos para-choques. Tudo isso na rua. Tudo isso vendada. Tudo isso enquanto sofria com a dor de ser uma nova mãe, punida a cada movimento de seu corpo.
Ela teria que deixá-los em casa. Iria sozinha.
Dirigiria quatrocentos metros na direção oposta da que tinha vindo. Viraria à esquerda e seguiria por mais seis quilômetros. Depois viraria à direta e dirigiria por outros quatro quilômetros. Ela teria que procurar o bar a partir dali. Levaria comida para Victor. Ele a guiaria de volta para o carro, de volta para a comida, quando ela precisasse.
Dez a doze quilômetros por hora parecia razoável. Seguro o bastante.
Mas, na primeira vez em que tentou, descobriu como seria difícil.
Apesar das precauções, dirigir sem enxergar era assustador. O jipe chacoalhava violentamente enquanto ela passava por cima de coisas que nunca conseguiria identificar.
Bateu na calçada umas vinte vezes. Em duas, atingiu postes. Uma vez bateu em um carro estacionado. Era puro suspense, horrível. A cada giro do hodômetro, ela esperava uma colisão, um ferimento. Uma tragédia. Quando retornou para casa, os nervos estavam em frangalhos. Voltara de mãos vazias e duvidava de que teria coragem para tentar de novo.
Mas tentou.
Ela encontrou a lavanderia na sétima tentativa. E, como se lembrava de tê-la visto na primeira vez que dirigiu até a casa, aquilo deu a Malorie coragem para tentar de novo.
Vendada e assustada, ela entrou em uma loja de botas, num café, numa sorveteria e num teatro. Ouviu seus sapatos ecoarem no chão de mármore da recepção de um escritório. Derrubou uma prateleira cheia de cartões no chão. Mesmo assim, não conseguiu encontrar o bar. Então, no nono dia à tarde, Malorie entrou por uma porta de madeira destrancada e imediatamente soube que havia chegado.
O cheiro de frutas azedas, de fumaça seca e de cerveja foi mais acolhedor do que qualquer um que já sentira. Ajoelhando-se, ela abraçou Victor pelo pescoço.
— Encontramos — disse.
Seu corpo estava dolorido. A cabeça doía. A boca estava seca. Imaginava sua barriga como um balão murcho, morto.
Mas havia chegado.
Ela passou muito tempo procurando o balcão do bar. Esbarrando em cadeiras, bateu o cotovelo com força numa pilastra. Tropeçou uma vez, mas uma mesa evitou que ela caísse no chão. Passou bastante tempo tentando entender o equipamento com os dedos. Será que ali era a cozinha? Será que aquilo era usado para misturar os drinques? Victor a puxou, brincando, e ela se virou e bateu a barriga em algo duro. Era o bar. Depois de amarrar a coleira de Victor no que acreditava ser um banco de metal, Malorie entrou atrás do balcão e tateou as garrafas.
Cada movimento era uma lembrança de quão recente tinha sido seu parto. Uma a uma, levou as garrafas ao nariz. Uísque. Algo de pêssego. Algo de limão. Vodca. Gim. E, por fim, rum. O mesmo que os moradores da casa haviam tomado na noite em que Olympia chegara.
Era bom sentir aquilo nas mãos. Como se ela tivesse esperado mil anos para segurar aquela garrafa.
Ela a carregou consigo por todo o bar. Ao encontrar o banco, sentou-se, levou a garrafa à boca e bebeu.
O álcool se espalhou pelo corpo de Malorie. E, por um instante, aliviou a dor.
Na sua escuridão particular, se deu conta de que uma criatura poderia estar sentada no bar ao lado dela. Talvez o lugar estivesse cheio delas. Três por mesa. Observando-a em silêncio.
Observando a mulher vendada, desesperada, e o seu cão-guia. Mas, naquele instante, por um segundo, ela não se importou.
— Victor — chamou. — Quer um pouco? Precisa de um gole?
Nossa, aquilo era bom.
Ela bebeu outro gole, lembrando-se de como uma tarde em um bar podia ser maravilhosa.
Esqueça os bebês, esqueça a casa, esqueça tudo.
— Victor, isso é bom.
Mas o cachorro, notou ela, estava inquieto. Puxava a coleira presa ao banco.
Malorie bebeu de novo. E Victor choramingou.
— Victor? O que foi?
O cão puxava a coleira com mais força. Estava choramingando, e não rosnando. Malorie o escutou. Parecia ansioso demais. Ela se levantou, o desamarrou e deixou-o guiá-la.
— Para onde estamos indo, Victor?
Ela sabia que ele a estava levando de volta para a porta por onde haviam entrado. Os dois esbarraram em mesas pelo caminho. As patas de Victor escorregaram nos ladrilhos e Malorie bateu a canela numa cadeira.
O cheiro era mais forte ali. O cheiro do bar. E só.
— Victor?
O cão havia parado. Então começou a arranhar algo no chão.
É um rato, pensou Malorie. Deve haver muitos aqui.
Ela fez um movimento circular com o pé, examinando a área, e bateu em algo pequeno e duro. Puxando Victor para o lado, tateou o chão com cuidado.
Pensou nos bebês e em como morreriam sem ela.
— O que é isso, Victor?
Era uma espécie de anel. Parecia de aço. Havia uma pequena corda. Examinando-a, vendada, Malorie entendeu o que era. Ela se levantou.
— É a porta do porão, Victor.
O cachorro respirava ofegante.
— Vamos deixá-la fechada. Temos que pegar algumas coisas aqui.
Mas Victor a puxou de novo.
Pode ter gente lá embaixo, pensou Malorie. Escondida. Morando lá embaixo. Pessoas que poderiam ajudá-la a criar os bebês.
— Olá! — chamou ela.
Mas não houve resposta.
Suor escorria por baixo da sua venda. As unhas de Victor arranhavam a madeira. O corpo de Malorie pareceu se partir ao meio quando ela se ajoelhou e puxou a porta.
O cheiro que subiu a sufocou. Malorie sentiu o rum voltar à boca e vomitou, ainda parada ali.
— Victor — disse, ofegante. — Tem alguma coisa apodrecendo lá embaixo. Alguma coisa...
Então ela sentiu um medo realmente escaldante. Não o tipo de medo que uma mulher sente enquanto dirige com um para-brisa pintado de preto, mas o tipo que acomete uma pessoa vendada que, de repente, percebe que há mais alguém no mesmo cômodo.
Ela estendeu a mão para fechar a porta, temendo a possibilidade de tropeçar, cair no porão e encontrar o que quer que houvesse lá no fundo. O fedor não era de comida podre. Não era de bebida estragada.
— Victor!
O cachorro a puxava, louco para ir até a fonte daquele cheiro.
— Victor! Pare!
Mas ele continuou.
Esse é o cheiro de uma cova. Da morte.
Depressa, desesperada, Malorie puxou Victor para fora daquele local e voltou para o bar.
Então procurou uma pilastra. Encontrou uma de madeira. Amarrou a coleira a ela e segurou a cara do cachorro entre as mãos, implorando para que o animal se acalmasse.
— Temos que voltar para os bebês — disse. — Você tem que se acalmar.
Mas a própria Malorie precisava se acalmar.
Nunca conseguimos entender como os animais são afetados. Nunca descobrimos isso.
Ela se virou, mesmo sem enxergar, para o corredor que levava ao porão.
— Victor — disse, os olhos cheios de lágrimas. — O que você viu lá embaixo?
O cão estava parado. Ofegante. Ofegante demais.
— Victor?
Ela se levantou e se afastou dele.
— Victor. Só vou andar um pouco por aqui. Vou procurar os microfones.
Uma parte de Malorie começou a morrer. Era como se ela mesma estivesse enlouquecendo.
Pensou em Jules. Ele amava aquele cachorro mais do que a si mesmo.
Aquele cão era a última e única ligação que Malorie tinha com quem morou na casa.
Victor soltou um rosnado atormentador. Era um som que ela nunca ouvira. De nenhum cachorro da Terra.
— Victor. Sinto muito por termos vindo aqui. Sinto muito mesmo.
O cão se movimentou violentamente e Malorie achou que ele tivesse se soltado. A viga de madeira se partiu.
Victor latiu.
Malorie, recuando, sentiu algo, uma espécie de plataforma, atrás dos joelhos cansados.
— Victor, não. Por favor. Sinto muito.
O cachorro balançou o corpo, batendo em uma mesa.
— Ai, meu Deus! VICTOR! Pare de rosnarPare! Por favor!
Mas Victor não conseguia parar.
Malorie tateou a plataforma acarpetada atrás dela. Arrastou-se até ela, com medo de dar as costas para o que Victor tinha visto. Encolhida e tremendo, ouviu o cachorro enlouquecer. O barulho do animal fazendo xixi. O som dos dentes batendo uns nos outros enquanto ele mordia o ar vazio.
Malorie gritou. Por instinto, procurou uma ferramenta, uma arma e percebeu que suas mãos agarraram uma pequena haste de metal.
Lentamente, ela se levantou, tateando o objeto.
Victor mordeu o ar. Outra vez. Parecia que seus dentes estavam se quebrando.
Na ponta da haste de metal, os dedos de Malorie cobriram um objeto curto e oblongo. Na extremidade, sentiu algo que parecia uma rede de metal.
Ela arquejou.
Estava em cima da plataforma. E segurava nas mãos o que tinha vindo buscar. Ela segurava um microfone.
Ouviu o osso de Victor se quebrar. Os músculos e a pele tinham se rasgado.
— Victor!
Ela pôs o microfone no bolso e caiu de joelhos.
Mate o cachorro, pensou.
Mas ela não era capaz.
Malorie vasculhou obcecadamente o palco. Atrás dela, parecia que Victor havia mastigado a própria perna.
Seu corpo está em cacos. Victor está morrendo. Mas há dois bebês dentro de caixas em casa. Eles precisam de você, Malorie. Precisam de você precisam de você precisam de você.
As lágrimas encharcaram sua venda até escorrerem pelo rosto. Sua respiração vinha em ondas ofegantes. De joelhos, ela seguiu um fio até um pequeno objeto quadrado na ponta do palco. Encontrou mais três fios, que levavam a três outros microfones.
Victor produziu um ruído que nenhum cachorro deveria fazer. Parecia quase humano tamanho era o seu desespero. Malorie reunia todos os objetos que podia.
Os amplificadores, pequenos o bastante para serem carregados. Os microfones. Os fios. Um tripé.
— Sinto muito, Victor. Sinto muito, Victor. Desculpe.
Quando se levantou, Malorie achou que seu corpo não aguentaria. Pensou que, se usasse um pouco menos de força, cairia para sempre. Contudo, ficou de pé. Enquanto Victor continuava a se agitar, Malorie tateou o caminho com as costas encostadas na parede. Por fim, desceu do palco.
Victor viu alguma coisa. Onde estava aquilo agora?
Era impossível conter as lágrimas. Entretanto, uma sensação mais forte a invadiu: uma calma preciosa. A maternidade. Como se Malorie fosse uma estranha para si mesma e agisse apenas pelos bebês.
Ao atravessar o bar, ela se aproximou o bastante de Victor para sentir parte dele se esfregar na sua perna. Seria a lateral do corpo do cachorro? O focinho? Será que estava se despedindo? Ou teria jogado a própria língua para ela?
Seguindo pelo bar, Malorie voltou por onde haviam entrado. A porta aberta do porão estava próxima. Mas ela não sabia onde.
— FIQUE LONGE DE MIM! FIQUE LONGE DE MIM!
Lutando para carregar o equipamento, Malorie deu um passo adiante e não sentiu o chão sob seu sapato.
Perdeu o equilíbrio.
Quase caiu.
Então se aprumou.
Sua voz parecia a de um estranho enquanto gritava antes de sair do bar.
O sol pareceu quente em sua pele.
Ela andou depressa de volta para o carro.
Seus pensamentos estavam eletrizados. Tudo acontecia rápido demais. Ela escorregou na calçada de concreto e bateu com força no carro. Muito agitada, guardou depressa as coisas no porta-malas. Quando se sentou ao volante, desatou a chorar.
A crueldade. Aquele mundo. Victor.
A chave estava na ignição e Malorie ia virá-la.
Então, com o cabelo preto molhado de suor, ela hesitou.
Quais eram as chances de algo ter entrado no carro? Quais eram as chances de algo estar sentado ao lado dela, no banco do carona?
Se alguma coisa estivesse ali, ela a estaria levando para as crianças.
Para ir para casa, disse a si mesma (e até a voz em sua mente tremia, até a voz em sua mente parecia estar chorando), você precisa olhar para o hodômetro de qualquer jeito.
Ela agitou as mãos, às cegas, no carro. Seus braços bateram descontroladamente no painel, no teto, socaram as janelas.
Arrancou a venda.
Viu o para-brisa negro. Estava sozinha ali dentro.
Usando o hodômetro, dirigiu os mesmos quatro quilômetros de volta, depois seis até a rua Shillingham, depois mais quatrocentos metros até a casa, batendo em todos os meios-fios e placas no caminho. Estava a apenas oito quilômetros por hora. Pareceu uma eternidade.
Depois de estacionar, reuniu o que havia encontrado. Dentro de casa, com a porta fechada atrás dela, Malorie abriu os olhos e correu para o quarto dos bebês.
Estavam acordados. Os rostos, vermelhos. Chorando. Com fome.
Muito tempo depois, ela estava deitada, tremendo, no chão úmido da cozinha. Encarava os microfones e os dois pequenos amplificadores ao seu lado, lembrando-se dos barulhos que Victor havia feito.
Cachorros não são imunes. Cachorros podem enlouquecer. Cachorros não são imunes.
E, sempre que achava que pararia de chorar, ela recomeçava.


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