Caixa de Pássaros - Capítulo 36

Alguém os segue.
Não adianta perguntar a si mesma até que distância ainda terá que remar. Não sabe quando ouvirá a voz gravada avisando que ela chegou. Não sabe se a voz continua existindo. Agora apenas rema, apenas persiste.
Uma hora atrás, eles passaram pelo que pareciam leões brigando. Ouviram rugidos. Aves de rapina gritam ameaças do céu. Coisas grunhem e rosnam na floresta. A correnteza do rio está mais forte. Ela se lembra da tenda que Tom e Jules encontraram na rua de casa. Será que poderia haver alguma coisa assim, tão espantosamente fora de lugar, ali no rio? Será que eles poderiam colidir com isso... agora?
Ali, Malorie sabe, qualquer coisa é possível.
No entanto, agora, é algo muito mais concreto que a preocupa.
Alguém os segue. É, o Garoto também ouviu.
Um eco fantasma. Remadas que acompanham o ritmo dos remos dela.
Quem faria isso? Além do mais, se quisessem machucar Malorie e as crianças, por que não feriram os três quando ela desmaiou?
Será que é alguém que também está fugindo de casa?
— Garoto — pede Malorie, baixinho —, me diga o que puder sobre eles.
O Garoto ouve.
— Não sei, mamãe.
Ele parece envergonhado.
— Será que ainda estão aqui?
— Não sei!
— Escute.
Malorie pensa em parar. Em voltar. Enfrentar o som que escuta atrás de si.
A gravação toca sem parar. Você vai ouvir. É alta. Clara. E, quando ouvir, vai ter que abrir os olhos.
O que os segue?
— Garoto — chama ela de novo. — Me diga o que puder sobre eles.
Malorie para de remar. A água corre em torno do barco.
— Não sei o que é — diz o Garoto.
Mesmo assim, Malorie espera. Um cachorro late na margem direita. Um segundo latido responde.
Cães selvagens, pensa Malorie. Mais lobos.
Ela começa a remar de novo. Pergunta outra vez ao Garoto o que ele está ouvindo.
— Desculpe, mamãe! — grita ele com a voz chorosa, envergonhado.
Ele não sabe.
Faz anos desde que o Garoto não conseguiu identificar um som. O que está ouvindo é algo que nunca tinha escutado.
Mas Malorie ainda acredita que ele possa ajudar.
— A que distância estão? — pergunta.
Mas o Garoto está chorando.
— Não consigo!
— Fale baixo! — sibila ela.
Alguma coisa grunhe na margem esquerda. Parece um porco. Então outro. E mais um.
O rio parece estreito demais. As margens, próximas demais.
Será que há algo seguindo eles?
Malorie rema.

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