Caixa de Pássaros - Capítulo 38

Será que Gary está seguindo você?
O som de alguém atrás deles, distante, mas ao alcance dos ouvidos, continua.
Ele está tentando assustar você. Poderia ultrapassar o barco a qualquer momento.
Gary.
Isso foi há quatro anos!
Será que ele teria esperado quatro anos para se vingar?
— Mamãe — sussurra o Garoto.
— O que foi?
Ela teme o que ele vai dizer.
— O som está se aproximando.
Onde Gary esteve nos últimos quatro anos? De olho em você. Esperando do lado de fora da casa. Ele viu as crianças crescerem. Observou o mundo ficar mais frio, mais sombrio, até a neblina baixar, aquela que você pensou, estupidamente, que os esconderia. Ele viu através dela. Através da neblina. Viu tudo o que você fez. Ele VIU você, Malorie. Tudo o que você fez.
— Droga! — grita ela. — Isso é impossível!
Então, virando o pescoço, seus músculos resistindo, berra:
— Deixe a gente em paz!
A remada já não é mais a mesma. Não está como quando saíram de casa, quando ela tinha dois ombros fortes. Um coração cheio de energia. Quatro anos para impulsioná-la.
Por tudo que enfrentou, ela se recusa a acreditar na possibilidade de Gary estar atrás dela.
Seria uma reviravolta muito cruel. Um homem vivendo do lado de fora durante todos esses anos. Não uma criatura, mas um homem.
O HOMEM É A CRIATURA QUE ELE TEME
A frase, a frase de Gary, apenas oito palavras, a acompanhou desde a noite em que a leu no porão. E não é verdade? Quando ela ouvia um galho se quebrar por meio dos amplificadores que foi buscar com ajuda de Victor, quando ouvia passos no gramado, do que tinha mais medo? De um animal? De uma criatura?
Ou de um homem?
Gary. Sempre Gary.
Ele poderia ter entrado em qualquer momento. Poderia ter quebrado uma janela. Poderia tê-la atacado quando ela ia pegar água no poço. Por que esperaria? Sempre seguindo, sempre rondando, só que ainda não estava pronto para atacar.
Ele é louco. Da maneira antiga.
O HOMEM É A CRIATURA QUE ELE TEME
— É um homem, Garoto?
— Não sei dizer, mamãe.
— É alguém remando?
— Sim. Mas com as mãos em vez de remos.
— Estão com pressa? Estão esperando? Me diga mais. Diga tudo que pode ouvir.
Quem está seguindo você?
Gary.
Quem está seguindo você?
Gary.
Quem está seguindo você?
Gary Gary Gary Gary
— Acho que não estão num barco — diz o Garoto de repente.
Ele parece orgulhoso por finalmente ter conseguido especificar.
— O que quer dizer? Estão nadando?
— Não, mamãe. Não estão nadando. Estão andando.
Bem atrás deles, ela ouve algo que nunca ouviu. Parece um trovão. Um novo tipo de trovão.
Ou pássaros, todos eles, em todas as árvores, que pararam de cantar e de piar, e estão apenas gritando.
O som ecoa uma vez, áspero, pelo rio, e Malorie sente um arrepio mais frio do que qualquer vento de outubro poderia provocar.
Ela rema.

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