Caixa de Pássaros - Capítulo 7

Riverbridge.
Malorie já esteve nessa área, muitos anos antes. Numa festa de ano-novo. Ela mal se lembra do nome da moça que deu a festa. Marcy alguma coisa. Maribel, talvez. Shannon a conhecia e foi quem dirigiu naquela noite. As estradas estavam lamacentas de neve. Montes cinzentos de neve suja emolduravam as ruas. As pessoas usavam o gelo dos telhados para fazer drinques. Alguém ficou seminu e escreveu 2009 na neve. Agora está no auge do verão, e é Malorie quem dirige. Com medo, sozinha e de luto.
A viagem até a casa é angustiante. Dirigindo a menos de trinta quilômetros por hora, Malorie procura freneticamente placas e outros carros. Fecha os olhos e depois os abre de novo, sem parar de dirigir.
As ruas estão vazias. Toda casa pela qual passa tem cobertores ou tábuas de madeira tapando as janelas. Vitrines estão vazias. Estacionamentos de shoppings, desertos. Ela mantém os olhos no asfalto imediatamente à sua frente e dirige, seguindo o caminho marcado no mapa a seu lado. Suas mãos parecem fracas ao volante. Seus olhos doem de tanto chorar. Ela sente um fluxo interminável de culpa por ter deixado a irmã, morta, no chão do banheiro de casa.
Malorie não a enterrou. Apenas foi embora.
Nos hospitais, não atenderam ao telefone. Nem nas funerárias. Malorie cobriu parte do corpo da irmã com um cachecol azul e amarelo que Shannon adorava.
O rádio entra e sai de sintonia. Um homem fala sobre a possibilidade de uma guerra. Se a humanidade se unir, diz ele, mas a estática se sobrepõe à sua voz. Ela passa por um carro abandonado no acostamento. As portas estão abertas. Uma jaqueta pende do banco do carona e toca no chão. Malorie olha para a frente de novo, depressa. Depois fecha os olhos. Em seguida, os abre.
O rádio está funcionando. O homem continua falando sobre guerra. Algo se move para a direita e ela vê de relance. Não olha. Fecha o olho direito. Mais à frente, no meio da estrada, um pássaro pousa e voa outra vez. Quando chega até ali, Malorie percebe que a ave estava interessada num cão morto. Ela passa por cima do animal. O carro sacode. Ela bate a cabeça no teto, a mala balançando no banco de trás. Está tremendo. O cachorro não parecia apenas morto, mas também retorcido. Ela fecha os olhos. Depois os abre.
Um pássaro, talvez o mesmo, grasna no céu. Malorie passa pela rua Roundtree. Rua Ballam. Horton. Sabe que está perto. Algo dispara à esquerda. Ela fecha o olho esquerdo.
Passa por um caminhão dos correios vazio. As cartas estão espalhadas pelo concreto. Um pássaro voa baixo demais e quase bate no para-brisa. Ela grita, fecha os olhos e os abre. E, nesse momento, vê a placa que está procurando.
Shillingham.
Malorie vira à direita, freando enquanto faz a curva para entrar na rua Shillingham. Não precisa conferir o mapa para saber que o número é 273. Ele esteve em sua mente durante toda a viagem.
Além de alguns carros estacionados em frente a uma casa à direita, a rua está vazia. A vizinhança parece comum, típica de um bairro residencial. A maioria das casas é igual. A grama está alta em todos os jardins. Todas as janelas estão cobertas. Ansiosa, Malorie olha para a casa onde os carros estão estacionados e sabe que é a que está procurando.
Ela fecha os olhos e pisa no freio.
Está parada e ofegante. A imagem desbotada da casa permanece em sua mente.
A garagem fica à direita. O portão, bege, está fechado. Um telhado amarronzado se apoia sobre tábuas e tijolos brancos. A porta da frente é de um marrom mais escuro. As janelas estão tapadas. Há um sótão.
Tomando coragem, com os olhos ainda fechados, Malorie se vira e pega a alça da mala. A casa deve estar a cerca de quinze metros de onde parou. Ela sabe que não está perto do meio-fio. Mas não se importa. Para tentar se acalmar, respira fundo, devagar. A mala está a seu lado no banco do carona. De olhos fechados, ela escuta. Como não ouve nada do lado de fora, abre a porta do motorista e sai, pegando suas coisas.
O bebê chuta.
Malorie leva um susto e se atrapalha com a bagagem. Quase abre os olhos para espiar a barriga. Em vez disso, a acaricia.
— Chegamos — sussurra.
Ela pega a mala e, sem enxergar, caminha com cuidado até o jardim em frente à casa. Quando sente a grama sob os pés, anda mais rápido, deparando-se com um pequeno arbusto.
Os espinhos das flores arranham seus pulsos e seu quadril. Malorie dá um passo para trás e sente o concreto sob os sapatos. Anda com cuidado até onde acha que a porta da frente fica.
Ela está certa. Fazendo barulho ao apoiar a mala na varanda, tateia os tijolos e encontra uma campainha. Toca.
De início, ninguém atende. Ela é tomada por uma sensação desanimadora de que aquilo é seu fim. Será que dirigiu até ali, enfrentou o mundo, por nada? Toca a campainha de novo. E de novo. Mais uma vez. Ninguém responde. Bate na porta, desesperada.
Ninguém responde.
Então... Malorie ouve vozes abafadas dentro da casa.
Ai, meu Deus! Tem alguém aqui! Tem alguém em casa!
— Oi — diz, baixinho, assustando-se com o som da própria voz na rua vazia. — Olá! Eu vi o anúncio de vocês no jornal!
Silêncio. Malorie espera, ouvindo com atenção. Então alguém grita para ela.
— Quem é você? — pergunta um homem. — De onde veio?
Malorie sente alívio e esperança. Tem vontade de chorar.
— Meu nome é Malorie! Vim de Westcourt!
Há uma pausa. Então:
— Seus olhos estão fechados? — indaga a voz de outro homem.
— Estão! Meus olhos estão fechados.
— Estão fechados há muito tempo?
Só me deixem entrar!, pensa ela. ME DEIXEM ENTRAR!
— Não — responde Malorie. — Ou estão. Vim dirigindo de Westcourt. Mantive os olhos fechados pelo máximo de tempo que consegui.
Ela ouve vozes baixas. Algumas estão irritadas. As pessoas estão discutindo se devem deixá-la entrar ou não.
— Eu não vi nada! — grita Malorie. — Juro. Estou bem. Meus olhos estão fechados. Por favor. Eu vi o anúncio no jornal.
— Continue de olhos fechados — diz um homem, por fim. — Vamos abrir a porta. Quando fizermos isso, entre o mais rápido que puder. Está bem?
— Está bem. Sim. Está bem.
Ela aguarda. O ar está parado, calmo. Nada acontece. Então ela ouve o clique da porta e entra rapidamente. Mãos a puxam para dentro. A porta bate atrás dela.
— Agora espere — pede uma mulher. — Precisamos tatear tudo para garantir que você entrou sozinha.
Malorie fica ali de pé, com os olhos fechados, e escuta. Parece que estão batendo nas paredes com cabos de vassoura. Várias mãos tocam seus ombros, seu pescoço, suas pernas.
Alguém está atrás dela agora. Ela ouve dedos sobre a porta fechada.
— Muito bem — afirma um homem. — Estamos seguros.
Quando abre os olhos, Malorie vê cinco pessoas paradas diante dela. Lado a lado, enchem o hall. Ela os encara. E a encaram de volta. Um homem está usando uma espécie de capacete.
Os braços dele estão cobertos com o que parecem ser bolas de algodão e fita adesiva. Canetas, lápis e outros objetos afiados se projetam da fita como se aquela fosse uma versão infantil de uma armadura medieval. Dois outros seguram vassouras.
— Olá — diz o homem da armadura. — Meu nome é Tom. Você, é claro, entende por que atendemos a porta desse jeito. Alguma coisa poderia entrar com você.
Apesar do capacete, Malorie vê que Tom tem cabelo castanho-claro. Feições marcadas. Seus olhos azuis brilham com inteligência. Não é muito mais alto do que ela. A barba por fazer é quase ruiva.
— Eu entendo — afirma Malorie.
— Westcourt — repete Tom, aproximando-se dela. — É uma viagem e tanto. Foi muito corajoso da sua parte. Por que não se senta para conversarmos sobre o que você viu no caminho?
Malorie faz que sim com a cabeça, mas não se mexe. Está agarrando a mala com tanta força que as juntas dos dedos estão brancas e doloridas. Um homem maior e mais alto se aproxima dela.
— Pronto — diz. — Pode deixar que eu seguro isso.
— Obrigada.
— Meu nome é Jules. Estou aqui há dois meses. Como a maioria de nós. Tom e Don chegaram um pouco antes.
O cabelo escuro e curto de Jules tem aspecto sujo. Como se o homem tivesse trabalhado ao ar livre. Ele parece ser gentil.
Malorie olha para os rostos dos novos companheiros de casa. Há uma mulher e quatro homens.
— Eu sou Don.
Ele também tem cabelo escuro. Um pouco mais comprido. Usa uma calça preta e uma camisa roxa de botão cujas mangas estão dobradas até os cotovelos. Parece mais velho que Malorie, vinte e sete, vinte e oito anos.
— Você assustou muito a gente. Ninguém bate nessa porta há semanas.
— Desculpem.
— Não se preocupe — diz o quarto homem. — Todos nós fizemos a mesma coisa que você. Eu sou Felix.
Felix parece cansado. Malorie acha que ele é jovem. Vinte e um, vinte e dois anos. O nariz comprido e o cabelo castanho armado lhe dão um aspecto caricato. Ele é alto, como Jules, embora seja mais magro.
— E meu nome é Cheryl — apresenta-se a mulher, estendendo a mão.
Malorie a cumprimenta.
A expressão de Cheryl é menos acolhedora do que a de Tom e Felix. O cabelo castanho cobre parte do rosto dela. Está usando uma regata. Também parece ter trabalhado pesado.
— Jules, você me ajuda a tirar essas coisas? — pede Tom.
Ele está tentando tirar o capacete, mas a armadura falsa atrapalha. Jules o ajuda.
Sem o capacete, Malorie consegue vê-lo melhor. O cabelo castanho-claro e bagunçado contrasta com a barba. Leves sardas colorem seu rosto. A barba é bem rala, mas o bigode é mais denso. A camisa de botão xadrez e a calça marrom a fazem lembrar de um professor que ela teve na escola.
Observando-o pela primeira vez, Malorie mal percebe que Tom está olhando para a barriga dela.
— Não quero ser rude, mas você está grávida?
— Estou — responde Malorie, baixinho, com medo de isso ser um problema.
— Ai, porra — exclama Cheryl. — Você só pode estar brincando.
— Cheryl — diz Tom. — Você vai assustar a moça.
— Olhe, Malorie, não é? — fala Cheryl. — Não quero parecer má ao dizer isso, mas ter uma grávida dentro desta casa é uma responsabilidade enorme.
Malorie fica em silêncio. Encara cada rosto, observando as expressões de todos. Parecem que a estão estudando. Decidindo se são capazes de abrigar alguém que um dia dará à luz. De repente, Malorie percebe que não pensou nisso antes. Durante a viagem, ela não considerou que seria aqui que o bebê nasceria.
As lágrimas estão surgindo.
Cheryl balança a cabeça e, cedendo, aproxima-se dela.
— Meu Deus... Venha aqui.
— Eu não estava sozinha — explica Malorie. — Minha irmã, Shannon, estava comigo. Só que ela morreu. Eu a deixei lá.
Malorie está chorando. Através da visão embaçada, percebe que os quatro homens a observam. Parecem sentir pena. No mesmo instante, ela entende que todos estão de luto, às suas maneiras.
— Venha — chama Tom. — Vamos mostrar a casa para você. Pode usar o quarto próximo à escada do segundo andar. Vou dormir aqui embaixo.
— Não — retruca Malorie. — Não posso ficar com o quarto de nenhum de vocês.
— Eu insisto — afirma Tom. — Cheryl dorme no final do corredor do segundo andar. Felix está no quarto ao lado do que você vai ficar. Afinal, você está grávida. Vamos ajudá-la da melhor maneira possível.
Eles caminham por um corredor. Passam por um quarto à esquerda. Depois por um banheiro. Malorie vê o próprio reflexo no espelho e desvia depressa o olhar. À esquerda, vê uma cozinha. No balcão há baldes grandes.
— Esta — diz Tom — é a sala de estar. A gente fica muito aqui.
Malorie se vira para ver a mão do homem apontar para um cômodo maior. Há um sofá.
Uma mesa de canto com um telefone. Abajures. Uma poltrona. Um tapete. Um calendário foi desenhado na parede, entre os quadros, com algo que parece hidrocor. As janelas foram tapadas com cobertores pretos.
Malorie ergue o olhar quando um cão entra na sala de repente. É um border collie. O cachorro olha para a moça com curiosidade antes de se aproximar dos pés dela e esperar que o acaricie.
— Este é Victor — diz Jules. — Ele tem seis anos. Eu o peguei quando era filhote.
Malorie faz carinho no cachorro. Acha que Shannon teria gostado dele. Então Jules sai da sala, carregando a mala de Malorie por uma escada acarpetada. Na parede, há quadros pendurados. Alguns são fotos, outros, pinturas. No topo da escada, ela vê Jules entrar num quarto. Mesmo do primeiro andar, percebe que um cobertor cobre a janela do cômodo.
Cheryl a leva até o sofá. Malorie se senta ali, exausta por causa da tristeza e do choque.
Cheryl e Don dizem que vão preparar um pouco de comida.
— São produtos enlatados — explica Felix. — Fomos comprar no dia em que cheguei. Pouco antes do primeiro incidente na Península Superior. O homem do mercado achou que estivéssemos malucos. Ainda temos o bastante para mais uns três meses.
— Um pouco menos agora — diz Don, entrando na cozinha.
Malorie se pergunta se ele estava insinuando que, com a chegada dela, há mais bocas para alimentar.
Então Tom senta-se ao lado da recém-chegada no sofá e pergunta o que ela viu na viagem até ali. Está curioso sobre tudo. Tom é do tipo que usaria qualquer informação que ela lhe desse, mas Malorie sente que os detalhes insignificantes de que se lembra não podem ajudar em nada. Conta a ele sobre o cachorro morto. Sobre o caminhão dos correios. As vitrines e as ruas vazias e o carro abandonado com a jaqueta.
— Tenho que explicar algumas coisas a você — começa Tom. — Em primeiro lugar, esta casa não pertence a nenhum de nós. O proprietário morreu. Conto essa história para você depois. Não temos internet. Não funciona desde que chegamos aqui. Temos quase certeza de que as pessoas que controlam as torres de transmissão pararam de trabalhar. Ou estão mortas. Não recebemos mais cartas nem jornais. Você conferiu seu celular nos últimos dias? Os nossos pifaram umas três semanas atrás. Mas temos um telefone fixo funcionando, o que é uma tremenda sorte. Só não sei para quem poderíamos ligar.
Cheryl entra na sala trazendo um prato com cenouras e ervilhas. E um pequeno copo de água também.
— O telefone fixo ainda funciona — explica Tom — pela mesma razão que as luzes ainda acendem. A usina local de energia é hidroelétrica. Não posso lhe afirmar se ela também vai parar de funcionar um dia, mas, se os homens que trabalham lá tiverem deixado as comportas abertas da maneira certa, a energia pode durar por um bom tempo. Isso significa que o rio é a fonte de eletricidade desta casa. Você sabia que tem um rio passando aqui atrás? Caso não haja um desastre, enquanto ele fluir, talvez tenhamos sorte. E chances de sobreviver. Será que isso é pedir demais? Provavelmente. Mas, quando você for até o poço pegar um pouco de água, e essa é a água que usamos para tudo, vai poder ouvir o rio fluindo a uns setenta metros da casa. Não temos água encanada. Ela parou de circular logo depois que cheguei. Para ir ao banheiro, usamos baldes e nos revezamos para levar os que estão cheios até as latrinas. São umas valas que cavamos na floresta. É claro que tudo isso tem que ser feito usando uma venda.
Jules desce para o primeiro andar. Victor, o cachorro, o segue.
— Já está tudo pronto — diz, acenando para Malorie.
— Obrigada — responde ela, baixinho.
Tom aponta para uma caixa de papelão em uma pequena mesa encostada na parede.
— As vendas ficam ali. Pode usar qualquer uma, sempre que quiser.
Todos olham para ela. Cheryl está sentada no braço da poltrona. Don, parado na porta da cozinha. Jules se ajoelha ao lado de Victor ao pé da escada. Felix está de pé ao lado de uma das janelas cobertas.
Todos sofreram, pensa Malorie. Estas pessoas passaram por coisas horríveis, assim como eu.
Enquanto bebe do copo que Cheryl lhe entregou, Malorie se vira para Tom. Não consegue tirar Shannon da cabeça. Ainda assim, se esforça e conversa com Tom, mesmo cansada:
— O que era aquilo que você estava usando quando cheguei?
— A armadura?
— É.
— Ainda não tenho certeza — responde Tom, sorrindo. — Estou tentando construir uma armadura. Alguma coisa que proteja mais do que só os nossos olhos. Ninguém sabe o que vai acontecer se uma dessas coisas encostar na gente.
Malorie olha para os outros moradores da casa. E depois se volta para Tom.
— Vocês acreditam que existem criaturas por aí?
— Acreditamos — diz Tom. — George, o dono dessa casa, viu uma. Pouco antes de morrer.
Malorie não sabe o que dizer. Ela instintivamente põe a mão na barriga.
— Não estou tentando assustar você — afirma ele. — E em breve vou lhe contar a história de George. Mas o rádio está dizendo a mesma coisa. Acho que agora é consenso. Alguma coisa viva está fazendo isso com a gente. E basta vê-la por um segundo, talvez menos que isso.
Para Malorie, tudo no cômodo parece escurecer. Ela se sente zonza, atordoada.
— Seja lá o que for — continua Tom —, nossas mentes não conseguem entender. Pelo que parece, as criaturas são como o infinito. Algo complexo demais para nossa cabeça. Sabe?
Malorie sente que as palavras de Tom estão, de alguma forma, sumindo. Victor arqueja aos pés de Jules. Cheryl pergunta se ela está bem. Tom ainda está falando.
Criaturas... Infinito... Nossas mentes têm limites, Malorie... Essas coisas... Estão além deles... Mais profundas do que eles... Fora de alcance... Fora de...
Nesse ponto, Malorie desmaia.


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